Eu sempre, sempre, fui uma criança medrosa. Sempre. Morria de medo de qualquer tipo de bicho e achei uma superação quando consegui brincar com um Hamster (não ria, é sério!). Durante muitos anos fui para o outro lado da rua quando via um cachorro, subia nas cadeiras quando ia fazer trabalhos nas casas de umas 'amigas' e até dava chilique por ai. Por isso mesmo achei um absurdo quando soube que meu pai ganhou um filhote de poodle. Como raios eu viveria em minha própria casa com um cachorro aqui?


Com ele aprendi a ser mais educada (passei a cumprimentar os animais, pedir desculpa quando imaginava pisar em alguma pata ou rabo e me sentia mal quando isso acontecia mesmo), aprendi a perdoar sem guardar mágoas, a sorrir cada vez mais, a interpretar gestos, a dizer o quanto o amo e perceber que ele me dizia o mesmo de várias outras formas, bem além das palavras. Aprendi tanto e ainda tinha tanto a aprender, tanto a dizer. Não conseguia mais sair de casa sem me despedir de Tyson e, acredite, ele sabia. Quando eu me aproximava com a mochila ele já baixava a cabeça (triste?) e esperava que eu falasse, eu me despedia, dizia que o amava e para ele se comportar, obedecer e cuidar de todos e ele fazia, quase sempre. Saber que me despedi dele antes de sair me dá um certo consolo por saber que não pude me despedir quando ele se foi.

Esse tempo não chegou para ele, talvez ele não se adaptasse a velhice mesmo, vai saber. Por sua impulsividade e desejo por (cada vez mais) liberdade, ele acabou indo mais cedo para o 'paraíso dos cachorros', como prefiro chamar. Prefiro pensar que ele foi para um lugar onde ele pode correr à vontade e ter todos os biscoitos que consiga comer, um lugar onde não precise de tosa nem coleiras.

Sabe, antigamente eu achava meio absurdo quando alguém dizia que estava mal por ter pedido um animal de estimação, achava as reações muito exageradas, mas eu só não os entedia. Não sabia o que era perder um amigo. Hoje eu sei o quanto eles são especiais e o quanto dói a perda. A casa torna-se chata, vazia, silenciosa e limpa. Não quero uma casa organizada e limpa se isso significar ficar sem a alegria dos latidos. Não consigo mensurar a falta que me faz o meu "catchorô", meu monstrinho, meu anjo de quatro patas. Eu fui a vida toda dele e ele uma parte essencial da minha.
Espero que com o tempo a dor cesse e eu possa abrir o coração e a casa para um novo membro da família, não que meu Tyson possa ser substituído, mas acho que ainda temos muito que aprender com os cães e Tyson nos ajudou a dar um enorme passo para isso,
Já sinto muito sua falta meu pequenininho, meu "catchorô", seja um bom menino ai no paraíso dos cachorro.
Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai
Que se quebra quando cai
Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois essa pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar
A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã
Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer ou me matar
Eu vou deixar em dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar.
Nuvem passageira - Hermes Aquino
P.S.: Acredite ou não, essa música tocou em um modo de listas aleatórias do youtube enquanto eu organizava algumas ideias para escrever esse texto. Acredito que a música sabe quando preciso dela, temos uma relação forte e antiga, mas isso já é assunto para outro texto.
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