domingo, 20 de março de 2016

Don't stop the music

Limpando a casa, me dá uma vontade louca de dançar. Vassoura vira microfone e almofadas viram plateia. É simples, leve, suave. Gostoso sentir a música assim. Uma vontade incontrolável ao sentir cada acorde, cada nota alta cantada. Não basta cantar e fechar os olhos; dançar também se faz necessário, o corpo também quer se expressar. 
Outro dia li um texto o qual dizia que devemos procurar um amor que sinta a música. Acho que sou do tipo que sente ao extremo. Do tipo de dança até no supermercado, do tipo que canta com o carro de som que passe na rua tocando uma música boa ao fundo do anúncio. Uma daquelas pessoas que canta, dança não importa onde, nem se vão rir. Eu não sei dançar, mas sinto a música e não me envergonho disso.
É essencial, quase óbvio, expressar o que aqueles acordes me fazem. Me fazem bem. Alegram a alma, entendem os sentimentos (sejam eles quais forem). Sem a música eu seria, certamente, uma pessoa triste, vazia, perdida. Não seria eu inteira, seria uma metade oca. Preciso ser eu completa, com cada passo desastrado, com cada frase desafinada, com os sorrisos somados ao arrepio na pele e olhinhos fechados. A alma sendo saciada pela música.


"Música é o relacionamento que nunca vai te decepcionar
O portal que conecta a alma ao corpo, dá vida
É o que me faz acreditar nas pessoas ainda"

Um dez! - Sérgio Dall'Orto

sexta-feira, 18 de março de 2016

Quase cinco anos em menos de dez minutos

Esse texto é muito, muito importante para mim. Foi escrito para um momento especial e foi a primeira vez que mostrei de verdade um texto meu. Tenho orgulho de ter escrito algo assim, ele uniu o riso e o choro, despertou emoções. A partir deste texto senti a necessidade dentro de mim de expor mais aquilo que escrevo.  
Dedico à todos os amigos que caminharam junto. 


Todos os dias caminhos se cruzam, a cada esquina existem pessoas com suas histórias para contar e outras tantas por acontecer. Há quatro anos e meio, alguns caminhos se cruzaram e criaram novas histórias. Cada um aqui (formandos) teve sua história modificada de alguma forma e modificou tantas outras.
A turma era uma mistura de sotaques, cada um representando seu lugar de origem (e pense numa galera diversificada!). Entramos na academia ainda moleques, sem saber bem o que era o universo da fisioterapia, inicialmente, com um único ponto em comum: o propósito de ser fisioterapeuta. Essa profissão tão nobre, a qual nos ensinou muito mais do que poderíamos imaginar sobre amor e dedicação genuínos ao próximo, nos fez crescer como pessoas e gradativamente nos uniu. Através desta escolha descobrimos outros tantos pontos em comum e logo reconhecemos os amigos que trilhariam conosco essa jornada.
Estivemos juntos em boa parte das dificuldades: a adaptação ao cheiro do formol, as dificuldades iniciais em manipular o goniômetro, anotações, anotações e mais anotações (quem lembra? “Inserção proximal e distal: anote!”), provas, portfólios, PTS, estágio, fichas e mais fichas (sério, foram muitas fichas), as intermináveis horas produzindo TCC e por fim a aflição na contagem da carga horária complementar (Certo, Pablo?!). Juntos também nos momentos mais pessoais como perdas, partidas e chegadas.

O melhor caminho quase nunca é o mais fácil. Por vezes nossa fé foi posta em xeque, pensamos em jogar tudo pro ar e tentar uma nova rota, no entanto o apoio mútuo dos colegas que hoje estão com essas becas, dos pais, amigos, namorados e namoradas, irmãos, filhos, maridos e neto (né Edilene?) foi essencial para que a caminhada pudesse continuar. Pais, olhem com orgulho para os seus filhos, esta é uma vitória tão de vocês quanto nossa. Os cuidados que tiveram desde antes do nascimento hoje é recompensado pela alegria de dever cumprido, vendo que conseguiram formar homens e mulheres de bem e de valores. Obrigado por acreditarem.
Aos mestres, que também fizeram papel de pais, irmãos e psicólogos, agradecemos toda a dedicação posta nos mínimos detalhes, desde a montagem dos planos de ensino, até os exemplos compartilhados em sala de aula, a paciência com cada “É sério isso professor?”, as experiências divididas e as conversas, nos mostrando que poderíamos ser tão bons quanto vocês se quiséssemos de verdade (Quem nunca sonhou em ser como Jorge Ivan ou Francisca Rêgo algum dia, né Tamila?). Vocês nos mostraram que os erros fazem parte do processo de aprendizagem e nos incentivaram a pensar e analisar as coisas por um outro ângulo (a propósito Angelo, ainda não consegui responder àquela pergunta: O que é normal?). A contribuição de vocês foi tão fundamental quanto a escolha do curso para formação dos profissionais que hoje somos. Muito obrigado!
Não poderíamos deixar de agradecer à todos os funcionários do UNIRN por nos ajudarem direta ou indiretamente em algum momento do nosso curso, em especial ao seu Flávio (pai de todos!) e aos funcionários da Clínica que tiveram paciência durante as vésperas de entrega de fichas e foram amigos. Valeu Francinildo (mais conhecido como seu Pedro), Jackson (mais conhecido como índio), Karla (mais conhecida como Karla mesmo), Ivanildo, Emerson, Edna. Dona Marlucie, obrigado pelos cafezinhos com biscoitos!
E os nossos pacientes? Agradecemos imensamente a confiança, compreensão e carinho. Apesar de todas as dificuldades, receber o sorriso e o “obrigado” deles após cada atendimento, o carinho ter nossos nomes em suas orações, ver e ouvir os relatos de melhoria era tão gratificante que enchia-nos de certeza que estávamos no caminho certo e renovava as energias para estudar mais e querer sempre o melhor para o próximo. E assim, juntos, aprendemos a valorizar e respeitar o nosso primeiro bem e o mais precioso de todos: a vida. (E foi bom aprender tudo isso com vocês!).

É muito interessantes pensar em como todas as pessoas que passaram por nossas vidas deixam marcas e mesmo que não queiram, nos mudam de alguma forma. Quem eu seria sem as histórias que trago, se tivesse seguido outros caminhos? Ninguém nunca se dá conta do poder que tem de modificar vidas com pequenos gestos, atitudes. Permitir deixar alguém entrar na sua vida é arriscar. Arriscar é viver. Ao entrar aqui não imaginamos que vamos mudar, mas mudamos tanto! (Cecília tá tão diferente!). Crescemos em todos os sentidos que a palavra permite e isso se deve a todo o apoio, compreensão e esforços.
Por essas salas e corredores fizemos amigos e firmamos laços (e feliz daquele que aproveitou esse tempo aqui). Dividimos risos, lágrimas, orações, medos, viagens, almoços, tardes de estudos e de evoluções... A UNIRN foi nosso segundo lar (os colegas monitores que o digam!) e hoje estamos juntos aqui, em casa, para reconhecer e celebrar nossas conquistas e superações. Não foi só sofrimento e labuta. Rimos (e rimos muito, né Jessica?!), cantamos, festejamos, (“Lissamos” de vez em quando também) e quando estávamos bem cansados, bem cansados mesmo dormíamos (o laboratório de cinésio e ginásio de orto estão de prova). Fomos felizes (e como fomos!).
A memória vai cheia e o coração vai ficando apertado sabendo que o ciclo aqui se encerra. Novos caminhos serão cruzados daqui em diante, novas estradas serão construídas. Como foi bom crescer com vocês! Parabéns Leila! Parabéns a todos nós, superamos os desejos clássicos de ser médico, engenheiro, advogado, atriz de malhação, agora somos fisioterapeutas! Temos um dever ante a sociedade, mas principalmente ante ao espelho: oferecer esperança, doar nosso tempo de forma ética e humanizada, fazer o melhor que pudermos. Ser o bem, levar luz. Ou se preferir o contrário, ser luz, levar o bem.
E como falar em levar o bem sem lembrar-nos de um grande amigo que perdemos? Ele, que sempre nos ouviu, nos acolheu com braços abertos, brincava com todo mundo e estava sempre disposto a ajudar; sempre nos dizia para termos calma e esperar pois os bons dias logo chegariam e eles chegaram, pena que ele não pode estar aqui hoje da forma que gostaríamos. Seu chamado veio cedo e nos doeu. Doeu muito voltar à clínica e não encontrá-lo lá perguntando sobre como foram as férias. Todos sentimos sua perda e prestamos essa homenagem a sua amizade, somos a turma Mardônio Moura e, onde quer que você esteja, estamos honrados por carregar este nome conosco. Temos certeza que você estaria dizendo agora: “Eu não disse que vocês conseguiriam?”. É, conseguimos.
O riso e o choro, demonstrações outrora tão antagônicas, hoje estão livres e unidos para expressar a felicidade que todos sentimos pelo prazer da conquista. Espero que este não seja um adeus, mas sim um até breve, afinal, o que pode parecer um ponto final é também um ponto de partida. Uma feliz nova estrada para cada um de nós, nos vemos nas próximas esquinas. Obrigado!

Yara Menezes
Colação de Grau Fisioterapia (UNI-RN)
15 de agosto de 2015, Natal/RN



quinta-feira, 17 de março de 2016

Meu Tyson


Eu sempre, sempre, fui uma criança medrosa. Sempre. Morria de medo de qualquer tipo de bicho e achei uma superação quando consegui brincar com um Hamster (não ria, é sério!). Durante muitos anos fui para o outro lado da rua quando via um cachorro, subia nas cadeiras quando ia fazer trabalhos nas casas de umas 'amigas' e até dava chilique por ai. Por isso mesmo achei um absurdo quando soube que meu pai ganhou um filhote de poodle. Como raios eu viveria em minha própria casa com um cachorro aqui?
Quase gritei pela casa "Ou ele ou eu" quando soube mas tive medo da resposta. Além disso, bem, seria uma oportunidade de deixar a frescura de lado. Então foi isso, iniciamos um verdadeiro debate com direito a mediador, réplica e tréplica para escolher o nome. Não podia ser nada fofinho, afinal ele já seria um poodle. Queríamos um nome forte e imponente, para contrastar com o pelo bem tosado e fofo. Tyson, esse foi o nome e combinou bem com ele, agora posso ver.
Ele nunca parava quieto. Era do tipo hiperativo, sabe?! Acho que ele nunca soube que era um cachorro de companhia e agia como um cão de guarda, um verdadeiro protetor. Não era muito dado a visitas mas adorava um carinho. Apesar de ser uma criaturinha pequena conseguiu fazer um verdadeiro estrago e em menos de 8 meses conseguiu destruir um jogo de sofá completo. Graças a ele descobrimos que as lojas vendem cada produto sem qualidade...
Zanho que só ele, já deu uma boa mordida em cada membro da casa mas, mesmo tentando, não conseguíamos ficar muito tempo com raiva dele por isso. Ele vinha com aquela cara de "Olha como eu sou lindo, você não pode não me amar, humana!" e eu não resistia. Por várias vezes fui acordada por ele invadindo meu quarto e revirando tudo lá dentro, era uma loucura! Ele nunca saia sem levar uma meia, blusa ou acessório que achou bacana. 
Minha maior alegria em voltar para casa no final de semana estava, em grande parte, nele. Bastava chamar no portão e ele já anunciava a chegada e não parava enquanto eu não fosse falar com ele. Meu riso ficava frouxo ao ver sua alegria ao me ver e minha alegria era evidente também. Pulava e girava no ar e pulava de novo, latia, corria, queria lamber e brincar, tudo de uma vez. Era um ladrão de gargalhadas, e eu simplesmente amava isso. Amo. Continuarei amando.
Com ele aprendi a ser mais educada (passei a cumprimentar os animais, pedir desculpa quando imaginava pisar em alguma pata ou rabo e me sentia mal quando isso acontecia mesmo), aprendi a perdoar sem guardar mágoas, a sorrir cada vez mais, a interpretar gestos, a dizer o quanto o amo e perceber que ele me dizia o mesmo de várias outras formas, bem além das palavras. Aprendi tanto e ainda tinha tanto a aprender, tanto a dizer. Não conseguia mais sair de casa sem me despedir de Tyson e, acredite, ele sabia. Quando eu me aproximava com a mochila ele já baixava a cabeça (triste?) e esperava que eu falasse, eu me despedia, dizia que o amava e para ele se comportar, obedecer e cuidar de todos e ele fazia, quase sempre. Saber que me despedi dele antes de sair me dá um certo consolo por saber que não pude me despedir quando ele se foi.
Eu, quando via algum cachorro mais velhinho, ficava tentando imaginar como ele seria quando chegasse na idade e não conseguia. Ele adorava pular, correr pela casa, latir para os outros, brincar... como poderia desacelerar e ser um idoso comportado e respeitável?
Esse tempo não chegou para ele, talvez ele não se adaptasse a velhice mesmo, vai saber. Por sua impulsividade e desejo por (cada vez mais) liberdade, ele acabou indo mais cedo para o 'paraíso dos cachorros', como prefiro chamar. Prefiro pensar que ele foi para um lugar onde ele pode correr à vontade e ter todos os biscoitos que consiga comer, um lugar onde não precise de tosa nem coleiras.
A estadia dele foi tão curta em nossas vidas mas foi tão essencial para nossa continuação aqui. Ele mudou a todos nós e a nossa dinâmica em casa e viagens. Ele nos melhorou como pessoas de uma forma que nem sei se poderia ser dito. Falando por mim, abri o coração e aprendi o que é amar e a não achar tão brega falar sobre amor. Aprendi a superar meus medos e ser feliz com muito pouco. Eu já não precisava de viagens se ele não pudesse ir, não ligava em passar dias e dias sem sair de casa, ele enchia meus dias.
Sabe, antigamente eu achava meio absurdo quando alguém dizia que estava mal por ter pedido um animal de estimação, achava as reações muito exageradas, mas eu só não os entedia. Não sabia o que era perder um amigo. Hoje eu sei o quanto eles são especiais e o quanto dói a perda. A casa torna-se chata, vazia, silenciosa e limpa. Não quero uma casa organizada e limpa se isso significar ficar sem a alegria dos latidos. Não consigo mensurar a falta que me faz o meu "catchorô", meu monstrinho, meu anjo de quatro patas. Eu fui a vida toda dele e ele uma parte essencial da minha.
Espero que com o tempo a dor cesse e eu possa abrir o coração e a casa para um novo membro da família, não que meu Tyson possa ser substituído, mas acho que ainda temos muito que aprender com os cães e Tyson nos ajudou a dar um enorme passo para isso,
Já sinto muito sua falta meu pequenininho, meu "catchorô", seja um bom menino ai no paraíso dos cachorro.


Eu sou nuvem passageira 
Que com o vento se vai 
Eu sou como um cristal bonito 
Que se quebra quando cai 


Não adianta escrever meu nome numa pedra 
Pois essa pedra em pó vai se transformar 
Você não vê que a vida corre contra o tempo 
Sou um castelo de areia na beira do mar 

A lua cheia convida para um longo beijo 
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã 
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito 
E a namorada analisada por sobre o divã 

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva 
Não quero nem saber de me fazer ou me matar 
Eu vou deixar em dia a vida e a minha energia 
Sou um castelo de areia na beira do mar. 


Nuvem passageira - Hermes Aquino




P.S.: Acredite ou não, essa música tocou em um modo de listas aleatórias do youtube enquanto eu organizava algumas ideias para escrever esse texto. Acredito que a música sabe quando preciso dela, temos uma relação forte e antiga, mas isso já é assunto para outro texto.

terça-feira, 8 de março de 2016

Girassol

Ah menina, muitas lágrimas ainda cairão até que a vida esteja do jeito que você sempre desejou, Aliás, desconfio que a vida nunca é do jeito que sonhamos na infância/adolescência, sabe?! Do lado de cá, "vida adulta", as coisas são meio burocráticas e a gente aprende a moldar situações até que estejam no ponto de nos fazer feliz. Não perfeito, mas feliz.
Olha menina, você ainda vai ver que ser dona de um nariz requer muito mais do que ter um nariz. Requer responsabilidades e coragem, muita coragem. É possível que você ainda demore a entender isso, o que te levará a bater de frente com alguns muros antiiigos, mas que depois você entenderá o valor e importância deles.
Sabe, espero que em breve você descubra que chorar não soluciona nada, mas ajuda a extravasar as emoções. Por isso chore está noite até que o sono venha. Não te perguntarei o motivo das lágrimas, embora tenha ideia do que seja, mas prometo te levantar desse chão, lavar seu rosto e te cobrir com uma coberta quentinha com poderes medicinais e protetora contra as dores do mundo. Verdade, juro.
Amanhã, junto com o sol, surgirá uma nova oportunidade, cheia de frases clichês te lembrando que poderá ser um dia melhor. Saia desse quarto, não se esconda da luz, você não é dessas. Você é tal qual um girassol. É, um girassol, menina! 
Essa flor exalta alegria e beleza, só de olhar para ele dá vontade de sorrir. Além disso ela, dizem, acompanha a luz solar. Inclina-se para onde houver luz, onde houver vida. 
É possível que ainda venham muitos dias de sombras e lágrimas, mas isso passará. Sempre passa, nada é para sempre nessa vida. Nem as coisas boas, nem ruins. Nada é, tudo está. Você ainda vai mandar nesse nariz, vai ser dona da sua vida, vai agradecer esse momento ruim e sorrir muito, inclusive de toda essa situação
Seja como um girassol, 
minha flor, 
minha irmã.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Just Dance

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Nos tempos de escola, todos os alunos eram obrigados a realizar duas atividades extracurriculares à tarde. Em alguns anos entrei no jornalismo, xadrez, capoeira, vôlei, teatro e dança. Nenhuma das escolas teve vida longa. Amei a capoeira e ainda penso em voltar, mas quase todos os anos eu entrava na dança, embora desistisse depois de várias faltas.
Tudo bem, ainda fiz algumas apresentações, mas nunca tive muito jeito... Odeio coreografias. A dança é o corpo cantando. Não se regra o canto, apenas o solta.  Liberta-o. A dança é a expressão não-falada do que a música faz. Passos afinados, giros soprados, piruetas combinadas ao solo de sax. Tudo faz parte de uma atmosfera à parte, só quem ama a música entende.
Image result for dança expressivaNão dá pra entrar na música, entrar de verdade, sem cantar, sem sentir ou se mexer. Nem que seja a cabeça pra frente e pra trás, ou os dedos batucando a mesa ou as mãos num solo incrível que sai de uma guitarra invisível. Há de se sentir.
Ainda não aprendi a dançar, mas não resisto a uma boa batida. Danço, não por saber, mas por sentir e precisar expressar mais do que sorrindo, cantando. Preciso vibrar com tudo que tenho e admiro que consegue isso com mais graça e desenvoltura do que eu. Um dia, quem sabe, eu aprendo uns passinhos ritmados mas, até lá continuando dançando, assim, do meu jeito meio sem jeito.


''Fui me perguntar, mas perguntar pra quê? eu só consigo sentir... Não tem nome, só tem sentido,"
Saulo Fernandes

Sobre Fé e Religião

Esses tempos de debates religioso, leis contra a intolerância religiosa e afins me trazem algumas reflexões. Sempre fui uma curiosa e apaixonada por saberes e culturas. Por causa disso já visitei catedrais, templos, igrejas históricas, centros espíritas... E mais um monte! Fora os livros, claro. Sempre me interessou muito compreender as religiões que nos cercam e as que agem no mundo. Acho que procurei muito, tanto para saber quando para descobrir se me achava em algumas delas, uma vez que antigamente me sentia estranha por não ter religião alguma. Hoje em dia isso não faz mais minha cabeça, acredito que a fé é o mais importante.
Na minha casa, meus pais sempre foram muito abertos com religião, não nos forçaram a ir ao catecismo, nem a participar de nada de igreja, então crescemos com a visão ampla de todas as possibilidades. Tentei me achar de várias formas, mas até aqui, nada.
Sabe, cada religião tem sua forma de ver e apresentar o mundo para aqueles que as sigam, isso é fato. Acontece que sou pensante, nunca fui de aceitar um "porque sim" sem questionar, sem entender o porquê. É da minha natureza querer entender, o que não é muito fácil, principalmente no cristianismo. Não creio em santos, nem brux@s, não entendo datas festivas (católicas) ou as restrições (principalmente das protestantes), pouca coisa sei sobre o budismo, não entendo o poder das encruzilhadas nem das simpatias. 
Posso está falando absurdo aqui mas, a verdade é que eu sempre acreditei em Deus, mas não como o descrevem por ai, não. Não o que está no livro sagrado cristão. Acredito que Deus é um ser humilde e simples, que deseja apenas que amemos uns aos outros; um ser que não exige um ele com E maiúsculo. Não é egocêntrico e por isso mesmo é um ser superior. Que não está só no céu, mas na terra, nos rios, mares, ar e no meio de nós. Ele se mistura para pregar o amor, trazer luz e paz de espírito, não fica sentado num trono enorme de ouro nos observando. Eu acredito num ser maior que esse templos grandiosos, cheios de engravatados e suas esposas com jóias e perfumes caros, Deus é mais que isso, mais que tudo isso. Meu Deus tem um enorme senso de humor e se apresenta constantemente nas coisas simples para aqueles que estão dispostos a vê-lo. 
Independentemente da religião, se todos buscam a paz, o bem e sem ferir ninguém no caminho de sua busca, não importa a religião, senhor ou senhor@s que seguem (e servem). O bem e o amor são essenciais. Não importa se você vai rezar, orar ou oferecer,  tudo é válido se você crer que aquilo é bom, que é para o bem e que não fere ninguém.
Em minha busca não encontrei uma religião que eu consiga seguir, que eu confie que poderei ser eu e pensar livremente estando com ela. Mas compreendi minha fé. Continuarei crendo no meu Deus e com fé em mim, nas minhas escolhas, nos meus caminhos e minha capacidade de resistir e superar. Até lá, sigo com bons amigos buscando o crescimento, formas de praticar o bem, levando luz e alegria para os outros sem me importar com suas religiões (ou ausência dela).
Ainda tenho fé na humanidade. Creio que o mundo pode ser um lugar melhor se algum dia as pessoas se preocuparem menos em criticar e tentar mudar a religião do outro e se unirem por causas maiores e mais urgentes como a fome, abandono, saúde, violência... Tenho fé em mim e por isso que a mudança de hábitos deve começar bem aqui. 



"Não é preciso que a bondade se mostre; mas sim é preciso que se deixe ver." 
(Platão)

Fazer o bem


Outro dia, em mais uma das minhas várias observações do comportamento humano, percebi que a lei que vem predominando é a do "deixa se virar". Por exemplo, se tem alguém que precisa de ajuda mas nem sempre fez por merecê-la, simplesmente dizem, deixa se virar. Isso não me faz o menor sentido. Se eu posso ajudar porquê não fazê-lo? Nesse mesmo dia recebi ajuda duas vezes de pessoas desconhecidas, sem se quer pedir, mas de fato precisei então porque me negar ajudar se o mundo vem me ajudando dia a dia? 
Todo o bem que fazermos volta para nós, mas não é pensando no retorno que devemos ser solidários. Precisamos compreender que somos uma célula, parte de algo maior e mais lindo, precisamos entender aquele velho jargão que "juntos somos mais fortes". E somos mesmo. O apoio é essencial para o crescimento do grupo (seja ele qual for) e pessoal também. Faz bem fazer o bem. Saber que ajudou alguém, ainda que com um gesto simples nos enche de orgulho e aquece o coração, todo mundo deveria tentar.

É preciso entender que a raiz de todo o bem é o amor ao próximo, é fazer aquilo que você gostaria que fizessem (ou não fizessem) por você. Enquanto não compreendermos que precisamos nos unir e nos ajudar as coisas não vão mudar. Vamos continuar vendo de braços cruzados absurdos acontecerem sem fazer nada. As pessoas não são más, elas só estão perdidas. Ouvi isso em uma música de Criolo e desde então nunca saiu da minha cabeça e eu acredito nessas palavras. Acho que o bem pode mudar as pessoas e as pessoas podem mudar o mundo. Pode ser um sonho ingênio, utopia, sei lá...chame como quiser, mas é preciso ter fé e crê em coisas maiores se quisermos enfrentar esse mundo doente no qual vivemos. 
Seja a luz para alguém no escuro, seja a mão que ajuda alguém a levantar, seja a pessoa que diz "vai dar certo" para um desesperançoso, dê abraços apertados e sorrisos calorosos. Seja luz, leve amor. Ou o contrário: seja amor, leve luz.

Sobre um cara que floresce


Lembro-me que na época em que o download virou febre eu trocava muitas músicas com meus amigos. Entre essas trocas uma amiga me veio com a Banda Eva. Sim, eu já havia ouvido há muito tempo, na época da Ivete, uma vez que meu pai tinha um disco em casa, porém as músicas que ela me indicou eram cantadas por um cara, um tal de Saulo Fernandes. Nunca tinha ouvido falar, mas gostei das músicas. Montei uma playlist com umas onze, doze músicas e ouvi por um tempo. Eram boas mas não me tornei fã.
Depois desse primeiro contato, já esbarrei com a voz de Saulo outras vezes, por indicações de outros e fazendo parte da minha trilha sonora em momentos específicos, mas foi o Baiuno que me aproximou de vez. Esse álbum traz muito mais que música, Traz a essência de Saulo e da Bahia, ou vice-versa, tanto faz. Há beleza branda, simplicidade, pureza, alegria, luz e amor, muito amor. É simplesmente lindo e eu, como fã assumida de música boa brasileira, não pude resistir e me apaixonei logo nos primeiros acordes. Para completar vi alguns vídeos de músicas, shows e entrevistas de Saulo e constatei que ele é um cara especial.
Na maioria das vezes usava roupas largas em tons claros e chinelos. Falando ele mais parecia declamando poesia: baixo, suave, sem pressa e carregado de sotaque. Um cara simples, humilde, mais que tudo isso um cara humano. Não, eu não sou tiete, não sei da história dele, muito menos de todas as música, álbuns e agenda de show. Sei muito pouco na verdade, mas me encanta a leveza dele e principalmente sua sensibilidade. Ele sente muito tudo ao seu redor e consegue filtrar e canalizar sentimentos bons através de sua música. E num mundo como o nosso, sentir é algo tão raro que impressiona. Hoje em dia a grande maioria da população está completamente insensível as dores do próximo e aos absurdos causados pela falta de respeito e amor. 
Saulo mostra, sem querer (ou querendo mesmo), que o mundo tem jeito. Mostra que amar seu povo e suas raízes te fazem entender muito mais de si e do mundo que você está. Mostra que o saber, educação e gentileza fazem diferença e que o bem que você faz sempre volta pra você. O universo realmente presenteou o nosso povo quando nos enviou um cara com tanta alegria, sensibilidade e simplicidade justamente nessa época de metralhadoras, falsetes, menor de idade matando por trocado e político com amnesia absurda.
Nosso país tem sim músicos fantásticos mas conheço poucos caras, com a projeção dele, tão simples. A maioria ou torna-se soberbo por saber que é bom ou que compõe duas ou três músicas de sucesso e já se consideram melhores que Cartola ou Caymmi.
Amo música e sempre que posso procuro saber sobre seus compositores, cantores, a história. O processo que há por trás da criação me encanta tanto quanto ou mais que a composição em si. A essência das pessoas me fascina, acho que já comentei isso aqui. É compreender o lado de dentro.
Ir a um show de Saulo e vê sua luz brilhar de perto, vê ele fazendo aquela mágica de levar amor e leveza através da voz me encantou demais. Repetiu o coro em favor da alegria. Fez florescer sorrisos. Onde ele estiver haverá carnaval.

É um grande orgulho (e alívio) saber que existe pessoas como ele, tão singulares e diversificadas ao mesmo tempo. 
É tempo de se fazer prece ao coração.
Enraizar e emanar o bem. 
Levar luz.
Axé!


Por onde for floresça
Serena que nem água de poço
Risque a palavra feia
E que não falte fé

Converse com o céu
E convença o universo
A girar no seu tempo
Por onde o vento assoviar

Navegue em maré que flui
Como cafuné em silêncio
Ama o sol que é tão bonito
E ainda acredita no mundo
Que o amor é a melhor companhia
E a luz do abraço cresceu o desejo
De eternizar a respiração
Por onde for... será seguro
Estarei com você

E tudo que a gente aprendeu é liberdade
Por onde for... leve seu guia... o coração
Floresça - Saulo


Axé: saudação utilizada para desejar votos de felicidade e boas energias.

And I'm feeling good

A viagem, assim como foi para chegar aqui, será longa até chegar em casa. Tem gente que odeia longas viagens de ônibus, pelo cansaço e desconforto que causam, pela possibilidade de dividir poltronas com desconhecidos... essas coisas. Viajar é sair da nossa zona de conforto e eu costumo gostar. Me dá a possibilidade de passar um bom tempo comigo mesma, sem o peso na consciência gritando que eu deveria está fazendo algo produtivo; ali não há muito o que fazer além de ler, ouvir música, pensar ou dormir. 
E eu faço tudo isso.
Consegui sentar numa janela e por um milagre não há ninguém ao meu lado, então posso me esticar para ficar mais a vontade nas duas poltronas. O ônibus também é bom, as poltronas são confortáveis e há ar condicionado. Serão boas 6 horas até chegar em casa. 
Ligo os celular tocando as músicas no modo aleatório e me divirto ouvindo músicas que há muito não ouvia. Músicas suaves, dançantes, rocks, sambas e até mesmo as internacionais que eu geralmente evito por gostar de cantar mas não mandar bem nas gringas, confesso - mantenho-as no celular pelos ritmos que me fascinam. Fico feliz por ter tanta memória no celular, quase toda ocupada por músicas. 
Entre as letras, melodias e arranjos viajo nas paisagens e em pensamentos. Nunca havia viajado por esses lados e chega a ser estranho constatar que meu pequeno estado é na verdade tão grande assim. Passo por rios, pontes, cidades e entre uma parada e outra esculto sotaques diferentes. Como deixamos de conhecer nossas origens, não é mesmo? Há ainda tantas cidades aqui que eu se quer sei os nomes! Passando por esses interiores acabo passeando um pouco em meu interior também. Olhando por essa janela vejo como as coisas estão mudando, como tenho crescido e sonhado. Penso na prova que fiz no dia interior, na importância que ela teria para o início da minha carreira e em como fui mal. Penso no plano B, plano C e em como as coisas estão acontecendo rápido em 2016. O ano começou tão diferente, tão cheio de metas e mudanças internas que acabam refletindo em mudanças externas, como meu corte de cabelo, por exemplo. 
Em dezembro cortei cerca de 2/3 do meu cabelo. Aquele cabelão que sonhei ter por tanto tempo já não combinava comigo; acho que mudei durante o processo de crescimento, devo ter crescido de outras formas também. O cabelo carregava alguns pesos que eu queria me livrar então optei pelo ato mais rápido e impactante: tesoura nele. Obviamente foi um susto para os outros, mas eu já me via diferente no espelho, nos textos e gestos e ter uma imagem que combinasse com a pessoa que vejo refletida, aqui mesmo nessa janela de ônibus, era algo que eu precisava. E foi bom, me sinto tão eu agora, tão cheia de mim!
Como que atendendo a um pedido que eu nem tinha feito, meu celular enche meus ouvidos com a voz do Machael Dublé ("Birds flying high you know how I feel, Sun in the sky you know how I feel, Breeze driftin' on by you know how I feel") cantando a música Feeling good, da grande Nina Simone. Cada vez que esse jazz sobe, os metais tocando alto, a voz potente, meu coração bate feliz e o arrepio é inevitável. A letra me toca por exatamente por interpretar o que eu estou sentindo, And I'm feeling good.
Não me controlo e danço desajeitada, ali mesmo, em minha poltrona na janela, do lado do sol e com a cortina aberta.  Fecho os olhos e sinto os raios de sol (o sol que me faltava), a música balança meu corpo de uma forma que não consigo evitar (nem quero, nem tento), o sorriso vem e eu canto. Balançando a cabeça no ritmo da música e tentando não encher demais os pulmões para não gritar. Paro de pensar e me permito apenas sentir. And I'm feeling good.

It's a new dawn
It's a new day
It's a new life
For me
And I'm feeling good

("É um novo amanhecer, é um novo dia, é uma nova vida para mim, e estou me sentindo bem")




Representatividade, Empoderamento e bem-estar


Semana passada eu estava andando com minha mãe no centro e passamos por duas crianças que me chamaram atenção pela forma que me olharam. Naquele mesmo dia eu havia recebido vários olhares diferentes por causa, do meu cabelo black ou do meu batom roxo, não sei bem. Alguns olhavam com admiração outros com desdém, quem se importa, não é mesmo? Bom, mas voltando às crianças que me chamaram atenção.
Era uma menina que parecia ter uns 11 anos e um menino menor, talvez mais novo. Pareciam ser irmãos, O menino olhou para mim rapidamente e depois voltou o olhar, só que dessa vez com surpresa e algo a mais nos olhos que estavam 3 vezes mais abertos que da primeira vez. Ele puxou o braço da irmã e  tentou apontar em minha direção discretamente, sem sucesso, como se tentasse lembrar de uma palavra. Ela disse sem rodeios, "é black power!" e ele repetiu a palavra como e a saboreasse "black pooower... que legal!"
Eram duas crianças, com uniforme de escola pública e negras. Eu fiquei tão feliz com essa situação que comentei com minha mãe e ela respondeu "eles apontaram pro seu cabelo e você acha isso bonito?". é claro que eu acho! Sabe quantas influências negras ou que usem cabelo afro tem por ai? As crianças praticamente não têm personagem que as represente, que elas se identifiquem e assim, acabam achando que sua cor, seu cabelo é feio e que precisam mudar para serem aceitas nos grupos ou no mercado de trabalho posteriormente. 
Eu mesma não me identificava com as princesas da Disney. Gostava da Jasmine, do Aladdin, porque ela era o que mais se aproximava do que eu era, mas nunca tive uma boneca dela. Ou de alguma negrinha crespa. Meus bebês eram brancos de olhos azuis e cabelos loirinhos, loirinhos. É por essas e outras que sim, sim eu fico feliz que aquelas crianças olharam apontando pro meu cabelo. Acho que ali elas sentiram uma espécie de empatia, representatividade ou quem sabe, uma admiração por um cabelo semelhante ao delas, que todos dizem que é feio e que precisa ser alisado ou preso.
Re-pre-sen-ta-ti-vi-da-de, palavra grande, né? Tudo bem, combina com seu significado. Poder causar essa sensação em alguém é incrível, é uma forma de ajudar no empoderamento e empoderar é coisa séria. E se eu puder fazer isso apenas sendo quem sou e assumindo minhas características, mundo, se prepara porque eu não vou parar!

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Dia desses sai apressada para resolver umas coisas. Ao chegar na parada, que estava relativamente cheia vi várias pessoas se espremendo querendo uma sombrinha para esperar seus ônibus. Tinha um cara de camisa preta, calça jeans, óculos escuro e adivinha, black power. O dele era bem maior que o meu. Mesmo estando lotada, não tinha ninguém do lado do cara. Fiquei me perguntando se era coincidência ou preconceito mesmo, sei lá, vai saber. Eu sentei do lado dele e esperei meu ônibus.
Ele pegou o mesmo ônibus que eu e desceu na mesma parada também. Ele estava no assento à minha frente então pude observar as pessoas olhando para ele, mas principalmente as manias que ele tinha com o cabelo. Notei que eu também tenho a maioria deles. Fiquei pensando "Então todos agem assim? hahaha pensei que eu fosse exclusiva!", ao mesmo tempo fiquei feliz por ver que não estou só e a cada dia que passa vejo mais e mais gente feliz com sua essência, aceitando seus cabelos e características tais como são. :)  
Claro,  somos mais que só cabelo, mas esse é um passo.

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Ano passado estava voltando do estágio com uma amiga, comentando sobre planos, viagens e outras amenidades e no caminho passaram por mim uma negra com traças e mais a frente uma outra com dreads curtos. Notei que quando elas me viram sustentaram o olhar no meu cabelo, na época longos cachos, perguntei se minha amiga tinha visto e ela negou, mas eu fiquei pensando nisso e passei a observar melhor. Com o passar das semanas notei que isso sempre acontecia quando alguém com cabelo afro passava por mim: sustentávamos o olhar com um suave sorriso ali. Era como se naquele olhar disséssemos um para o outro "Você é lind@", "Seu cabelo é lindo, não acredite em quem diz que ele não é", "Parabéns por manter sua essência!". É algo nosso e até hoje se mantem, cada vez mais evidente para mim, o que enche meu peito de alegria.

Negros, negras, resistam aos padrões que nos excluem, somos todos lindos cada um a sua maneira. Resistam. Vamos viver e mostrar para todos a delícia que é ser negr@!