A viagem, assim como foi para chegar aqui, será longa até chegar em casa. Tem gente que odeia longas viagens de ônibus, pelo cansaço e desconforto que causam, pela possibilidade de dividir poltronas com desconhecidos... essas coisas. Viajar é sair da nossa zona de conforto e eu costumo gostar. Me dá a possibilidade de passar um bom tempo comigo mesma, sem o peso na consciência gritando que eu deveria está fazendo algo produtivo; ali não há muito o que fazer além de ler, ouvir música, pensar ou dormir.
Consegui sentar numa janela e por um milagre não há ninguém ao meu lado, então posso me esticar para ficar mais a vontade nas duas poltronas. O ônibus também é bom, as poltronas são confortáveis e há ar condicionado. Serão boas 6 horas até chegar em casa.
Ligo os celular tocando as músicas no modo aleatório e me divirto ouvindo músicas que há muito não ouvia. Músicas suaves, dançantes, rocks, sambas e até mesmo as internacionais que eu geralmente evito por gostar de cantar mas não mandar bem nas gringas, confesso - mantenho-as no celular pelos ritmos que me fascinam. Fico feliz por ter tanta memória no celular, quase toda ocupada por músicas.
Entre as letras, melodias e arranjos viajo nas paisagens e em pensamentos. Nunca havia viajado por esses lados e chega a ser estranho constatar que meu pequeno estado é na verdade tão grande assim. Passo por rios, pontes, cidades e entre uma parada e outra esculto sotaques diferentes. Como deixamos de conhecer nossas origens, não é mesmo? Há ainda tantas cidades aqui que eu se quer sei os nomes! Passando por esses interiores acabo passeando um pouco em meu interior também. Olhando por essa janela vejo como as coisas estão mudando, como tenho crescido e sonhado. Penso na prova que fiz no dia interior, na importância que ela teria para o início da minha carreira e em como fui mal. Penso no plano B, plano C e em como as coisas estão acontecendo rápido em 2016. O ano começou tão diferente, tão cheio de metas e mudanças internas que acabam refletindo em mudanças externas, como meu corte de cabelo, por exemplo.
Em dezembro cortei cerca de 2/3 do meu cabelo. Aquele cabelão que sonhei ter por tanto tempo já não combinava comigo; acho que mudei durante o processo de crescimento, devo ter crescido de outras formas também. O cabelo carregava alguns pesos que eu queria me livrar então optei pelo ato mais rápido e impactante: tesoura nele. Obviamente foi um susto para os outros, mas eu já me via diferente no espelho, nos textos e gestos e ter uma imagem que combinasse com a pessoa que vejo refletida, aqui mesmo nessa janela de ônibus, era algo que eu precisava. E foi bom, me sinto tão eu agora, tão cheia de mim!
Como que atendendo a um pedido que eu nem tinha feito, meu celular enche meus ouvidos com a voz do Machael Dublé ("Birds flying high you know how I feel, Sun in the sky you know how I feel, Breeze driftin' on by you know how I feel") cantando a música Feeling good, da grande Nina Simone. Cada vez que esse jazz sobe, os metais tocando alto, a voz potente, meu coração bate feliz e o arrepio é inevitável. A letra me toca por exatamente por interpretar o que eu estou sentindo, And I'm feeling good.
Não me controlo e danço desajeitada, ali mesmo, em minha poltrona na janela, do lado do sol e com a cortina aberta. Fecho os olhos e sinto os raios de sol (o sol que me faltava), a música balança meu corpo de uma forma que não consigo evitar (nem quero, nem tento), o sorriso vem e eu canto. Balançando a cabeça no ritmo da música e tentando não encher demais os pulmões para não gritar. Paro de pensar e me permito apenas sentir. And I'm feeling good.
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