segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Mais que uma tatuagem

Desde sempre gosto de tatuagens, acho uma forma interessante de se mostrar ao mundo, como externar algo que há em ti sem precisar abrir a boca. Claro, há pessoas que tatuam coisas sem-noção mas, para mim elas têm significado. Eu sempre soube que teria algumas tatuagens e há uns dois anos defini qual seria minha primeira e que acabou sendo a primeira da minha irmã também - fizemos juntas.
Minhas avós sempre foram carinhosas, umas criaturinhas fofas cheias de amor. Vó Luzia, que Deus à tenha em um bom lugar, era muito divertida, sempre inventava algo para a gente brincar e adorava dançar, festas, rir... alegria em pessoa! E foi uma perda rápida e dolorosa para todos quando ela se foi, Nem pude dizer o quanto ela significava para mim, o quanto aprendi sobre ser leve e valorizar as amizades como ela fazia. É que essa coisa toda de me expressar ainda não existia em mim, e foi estranho sentir que as palavras nunca seriam ouvidas por ela. Por essas e outras, hoje em dia as palavras são soltas e os sentimentos idem.
Já vó Teresa adora cozinhar para todos os netos. Quando éramos crianças a casa dela era cheia de doces e comidas boas, todo final de semana a casa dela era o point dos primos. Primeiro cada um levava alguns brinquedos e dividíamos, depois, quando um pouco mais velhos, começou a segregação: meninos x meninas; em seguida foi a vez dos games e por fim, os instrumentos musicais. Sempre gostamos de nos juntar e Vó sempre amou a casa cheia. De uns tempos para cá ela passou a nos cumprimentar de uma maneira bem peculiar, não sei exatamente quando, mas lembro que eu ficava um pouco desconcertada no começo. Seja pessoalmente ou por telefone, quando nos encontra ela pergunta "Fi/Fia  Alguém já disse que te ama hoje?"
Confesso que isso me desmonta toda. As vezes estamos tão perdidos, estressados com a vida corrida que coisas pequenas e sinceras mudam a energia do dia. Quando ela me pergunta isso eu já começo a rir automaticamente e sentir uma alegria sem fim. Como se fosse uma injeção de ocitocina. Eu digo que não, ela e diz "pois vovó ama. Muito, muito, muito." E eu digo o mesmo no meio de um abraço, quando possível. O riso toma conta que vez ou outra dói um pouquinho porque lembro que ela não é para a sempre. Somos seres transitórios e mutáveis, estamos aqui só de passagem. A gente sabe disso mas não faz doer menos perder quem tanto amamos, o medo permanece ali.
A saúde dela já não é mais tão boa mas, mesmo quando está bem ruim, ela insiste em perguntar isso quando nos encontra e eu me derreto toda de amores pela Véia. Uma vez, ela tava tão ruinzinha que nem abria os olhos, mas quando nos ouviu chegar no quarto, pediu para nos aproximarmos e fez a pergunta baixinho. Até chorei nesse dia, pelo tanto de amor que cabe numa senhorinha tão pequena e que já passou por tanta coisa nessa vida, parece que só há amor.
Não poderia ser outra a minha primeira tatuagem e eu a amo. Ela é cheia de verdade e significado e melhor de tudo: Vó viu, beijou as tatuagens e chorou dizendo o quando nos amava. Fazer uma homenagem e vê a recepção a isso não tem preço, é de uma reciprocidade ímpar, amor por cima de amor. Como foi feita nas costas, quase não vejo mas as pessoas vêem e sempre perguntam o que é, elogiam e tal. É a oportunidade que tenho de falar da minha Véia e reafirmar o amor dela por mim e o meu por ela, gravado em mim, interna e externamente. Uma marca dela na minha vida, uma forma de mantê-la presente mesmo quando não estiver e sempre que falo dela, faço com que ela viva em mais alguém, pela história do nosso amor aqui nesses traços pretos em letras cursivas em minhas costas. Tenho muito orgulho da frase da minha avó e de ter alguém tão sensível apesar de tudo na minha vida, na minha pele.

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