segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Lição aprendida com sucesso

Oi professor! Espero que não esteja muito ocupado para ler isso, é que amanheci com uma vontade louca de te contar uma história e por sorte estou disposta para escrevê-la. Prometo tentar não tomar muito seu tempo.
Lembro-me que uma vez estávamos no lar geriátrico e eu atendia uma senhorinha meio mal humorada e indisposta que mal queria fazer as atividades propostas por mim. No começo eu ficava um pouco frustrada e pensava "poxa, demorei tanto para montar essa conduta só para ela...".
Quando fui descobrindo formas de convencê-la me sentia enfim a profissional que eu queria ser. Ali eu estava começando a me familiarizar com o outro, que é bem mais importante que a conduta certa. Trabalhar com pessoas vai além dos objetivos e condutas, tem muito mais a ver com a compreensão e aceitação aquilo que o outro é. 
Um dia essa senhora estava gripada e eu, que estava super animada pela aceitação dela, mantive a conduta e ao final você me chamou para uma "conversinha". 
No dia eu fiquei bem bad, confesso, afinal, eu achei está realmente fazendo o certo mas você disse-me que não. Pior!, que naquele dia eu não fiz nada para o bem estar da senhorinha a qual eu já tinha muito carinho. Disse-me que não fui atenta as necessidades dela naquele momento e algumas outras coisas as quais não me recordo. Bem, a vida seguiu. Formei-me há um ano e estou trabalhando.
Gosto do meu trabalho. Não tenho chefe, não sou obrigada a usar o branco impecável todos os dias e muito menos a atender as áreas que não gostava na faculdade. Pelo menos eu achei que não.
Atualmente, uma de minhas pacientes é uma senhora que sofre de dores articulares, principalmente punhos e tornozelos e estamos obtendo ótimos resultados, mas esse não é o foco da história. Há umas duas semanas ela me chegou relatando que não estava respirando bem, dormido muito mal e bastante gripada. Ali estava novamente: seguir a conduta que estava sendo boa ou tratar a necessidade dela no momento? Não pensei duas vezes, fui fazer condutas voltadas para o que ela precisava. Não, não gosto de respiratória mas aprendi as técnicas e fundamentos e tive a oportunidade de ajudar alguém com isso. Durante o atendimento ela disse sentir o "pulmão crescer" e entrar mais ar, no dia seguinte disse ter dormido bem e isso tudo me deixou feliz da vida! E devo isso a você, professor. 
Eu poderia mandar isso diretamente para você mas acho que a ideia principal dessa ladainha toda serve para outras pessoas também, afinal, aprendizado não precisa (nem deve) ser individual. As vezes recebemos lições que nem sempre gostamos, as vezes elas são duras e ferem nosso orgulho ou ego. As vezes não concordamos mas aceitamos mesmo assim. Naquele dia eu recebi uma lição e só após mais de um ano vi a moral e verdade que ela trazia. Nem sempre lembramos onde e com quem aprendemos uma boa lição. Dessa vez, por sorte, eu lembrei e não tenho vergonha alguma de admitir que errar naquele dia me fez levar uma bronca e um aprendizado para a vida toda.
Acho que as melhores coisas que aprendi na faculdade não foram os conteúdos das aulas, mas sim essa sensibilidade intrínseca a respeito do ser. É um jeitinho todo diferente, uma visão do todo, da Pessoa como uma unidade e não várias partes. Essas aulas eu tive, principalmente, com você, Angelo. Obrigada por isso.
Hoje amanheci com excesso da necessidade de gratidão e preciso espalhar. Acho que pessoas como você, professor, merecem reconhecimento pelo que fazem, não por nós, alunos, mas sim pelos que atenderemos num futuro não muito distante. E isso serve para todo e qualquer profissional que vá trabalhar com gente, direta ou indiretamente. 
Obrigada pela bronca, hoje ela serviu para que eu ajudasse a dona Laura, amanhã certamente entenderei uma lição ou outra das tantas que recebo diariamente desde que me entendo por gente, e poderei ajudar outras Lauras, Marias, Franciscos...


P.S.: Foi mal, não consegui ser sucinta como gostaria.
P.S 2: não consigo deixar de te chamar de Professor, vai ser sempre assim.

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