5 de maio de 2014
(...)
Sendo assim, acompanhamos uma visita à dois rapazes, gêmeos, que possuem atrofia
muscular espinhal progressiva do tipo 3.
Eles nos esperavam na
área de casa e logo que entramos fomos conduzidos até os quartos, locais onde
se realizava a fisioterapia. Enquanto alguém realizava alongamentos e
exercícios respiratórios em um dos rapazes, eu observei bem mais do que apenas
o atendimento: observei o detalhadamente o quarto em que estávamos.
O quarto era de um tom
azul claro e tinha uma janela grande próxima a cama. Havia uma cômoda perto da
porta, com uma série de soldadinhos organizados como num cenário de batalha;
havia porta-retratos e em outra parede havia um espelho na altura ideal para um
cadeirante e bem próximo havia uma prateleira com escova de cabelo, pente e
outros utensílios pessoais (tudo ali era pessoal). Vi um computador ligado com
um plano de fundo do cartaz da nova temporada de Game Of Thrones. Tudo naquele
quarto possuía características impostas pelo dono e imprimia uma personalidade.
Durante (e após)
àquele atendimento fiquei pensando em como as pessoas confiam em nós ao ponto
de abrir as portas de suas casas, seus quartos para que possamos intervir em
suas vidas. Acreditam no trabalho que podemos oferecer e em nossa integridade.
O trabalho da fisioterapia na atenção básica é de uma importância
desproporcional ao que eu imaginava (é muito maior). Eu sabia que entraríamos
nas casas das pessoas, mas não cheguei a imaginar (ou entender) o que isso
realmente significava. Agora eu sei. Significa deixar um pouco de si e levar um
pouco do outro; significa ensinar e aprender; significa compartilhar e confiar.
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