domingo, 9 de dezembro de 2018

(Portfólio) Segundo dia na comunidade

5 de maio de 2014
            (...)
Sendo assim, acompanhamos uma visita à dois rapazes, gêmeos, que possuem atrofia muscular espinhal progressiva do tipo 3.
Eles nos esperavam na área de casa e logo que entramos fomos conduzidos até os quartos, locais onde se realizava a fisioterapia. Enquanto alguém realizava alongamentos e exercícios respiratórios em um dos rapazes, eu observei bem mais do que apenas o atendimento: observei o detalhadamente o quarto em que estávamos.
O quarto era de um tom azul claro e tinha uma janela grande próxima a cama. Havia uma cômoda perto da porta, com uma série de soldadinhos organizados como num cenário de batalha; havia porta-retratos e em outra parede havia um espelho na altura ideal para um cadeirante e bem próximo havia uma prateleira com escova de cabelo, pente e outros utensílios pessoais (tudo ali era pessoal). Vi um computador ligado com um plano de fundo do cartaz da nova temporada de Game Of Thrones. Tudo naquele quarto possuía características impostas pelo dono e imprimia uma personalidade.
             Durante (e após) àquele atendimento fiquei pensando em como as pessoas confiam em nós ao ponto de abrir as portas de suas casas, seus quartos para que possamos intervir em suas vidas. Acreditam no trabalho que podemos oferecer e em nossa integridade. O trabalho da fisioterapia na atenção básica é de uma importância desproporcional ao que eu imaginava (é muito maior). Eu sabia que entraríamos nas casas das pessoas, mas não cheguei a imaginar (ou entender) o que isso realmente significava. Agora eu sei. Significa deixar um pouco de si e levar um pouco do outro; significa ensinar e aprender; significa compartilhar e confiar.

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