domingo, 9 de dezembro de 2018

(Portfólio) Segundo dia na comunidade

5 de maio de 2014
            (...)
Sendo assim, acompanhamos uma visita à dois rapazes, gêmeos, que possuem atrofia muscular espinhal progressiva do tipo 3.
Eles nos esperavam na área de casa e logo que entramos fomos conduzidos até os quartos, locais onde se realizava a fisioterapia. Enquanto alguém realizava alongamentos e exercícios respiratórios em um dos rapazes, eu observei bem mais do que apenas o atendimento: observei o detalhadamente o quarto em que estávamos.
O quarto era de um tom azul claro e tinha uma janela grande próxima a cama. Havia uma cômoda perto da porta, com uma série de soldadinhos organizados como num cenário de batalha; havia porta-retratos e em outra parede havia um espelho na altura ideal para um cadeirante e bem próximo havia uma prateleira com escova de cabelo, pente e outros utensílios pessoais (tudo ali era pessoal). Vi um computador ligado com um plano de fundo do cartaz da nova temporada de Game Of Thrones. Tudo naquele quarto possuía características impostas pelo dono e imprimia uma personalidade.
             Durante (e após) àquele atendimento fiquei pensando em como as pessoas confiam em nós ao ponto de abrir as portas de suas casas, seus quartos para que possamos intervir em suas vidas. Acreditam no trabalho que podemos oferecer e em nossa integridade. O trabalho da fisioterapia na atenção básica é de uma importância desproporcional ao que eu imaginava (é muito maior). Eu sabia que entraríamos nas casas das pessoas, mas não cheguei a imaginar (ou entender) o que isso realmente significava. Agora eu sei. Significa deixar um pouco de si e levar um pouco do outro; significa ensinar e aprender; significa compartilhar e confiar.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

(Portfólio) Primeiro dia na comunidade


29 de abril de 2014
Primeiro dia na comunidade

No dia 29 de abril, logo após o feriado, iniciamos nossa vivência na comunidade. Nosso destino foi o uma unidade básica na zona norte da cidade e acompanharíamos os doutorandos em suas atividades naquela ali. O primeiro desafia foi chegar lá.
Superadas as dificuldades e chegado à unidade de saúde foi realizada uma pequena reunião, na qual nos foram passadas algumas informações a respeito do funcionamento da unidade e das nossas atividades junto a comunidade para as próximas segundas-feiras.
Nossa turma foi divida aleatoriamente em trios e cada trio era destinado a um doutorando. Neste caso, duas colegas e eu fomos designadas a uma doutoranda e, sob as orientações dela fomos realizar a visita domiciliar na casa da dona Julia.
Dona Julia é uma senhora de 91 anos, possui um amplo histórico de diagnóstico clínico (a exemplo cito HAS, Diabetes, artrose e Alzheimer) e possui histórico de quedas (fraturou o quadril D e joelho D). Ela mora com sua filha Marta, sua cunhada Iolanda e seu Marido Manoel. Dona Iolanda tem 82 anos e é hipertensa, diabética, tem colesterol alto, artrite e labirintite. Já seu Manoel tem Hipertensão Arterial Sistêmica, sequelas de um AVE ocorrido em 2004, além de problemas auditivos.
Logo que chegamos lá, fomos muito bem recebidas por dona Iolanda, a qual nos levou a Dona Julia, que já estava sentada em sua poltrona na sala para realizar os exercícios. Encontrava-se em uma camisola branca fina que se prolongava até seus tornozelos, além do sorriso que chegava aos olhos, usava tranças em seu cabelo mesclado branco e loiro. Dona Julia é uma figura adorável! Sorria de tudo e fazia piadas. Apesar da idade avançada e do Alzheimer, encontra-se lúcida neste dia e conversa bastante. O oposto do Sr. Manoel, que pouco fala e ou interage com as pessoas.
Enquanto a doutoranda atendia dona Julia e uma das minhas colegas realizava exercícios respiratórios com dona Iolanda (a pressão arterial dela estava um pouco elevada), a outra colega e eu fomos realizar algumas atividades com o Sr. Manoel. Como foi difícil professor! Dizíamos: “Sr. Manoel vamos alongar um pouco?” e ele dizia: “Se eu vou me deitar?”. Tínhamos que falar bem alto (praticamente gritando) e ainda assim não era uma garantia que seríamos ouvidas. Isso foi um pouco desconfortável pra mim: chegar na casa de alguém que nunca me viu e gritar, e pior, gritar com o dono da casa! Bom, mas enfim, do meio pro fim conseguimos criar um ritmo e nos fazer compreensíveis para ele de modo que logo nossa atividade com ele acabou e voltamos para a sala, onde ouvimos dona Julia falar sobre como conheceu Sr. Manoel e o início do casamento.
Eles estão juntos há 70 anos, tiveram 12 filhos mas até hoje ela diz: “Tenham cuidado com ele, pra não cair! (...) Meu velho, Nezin.” Achei isso tão doce, tão lindo ainda haver sentimentos que resistam há tantos anos, tantas doenças... Lá estão os dois, sendo cuidados pelos filhos, mas ainda se preocupam um com o outro e ajudam, da melhor forma que podem. Gostei deles!
Nem bem chegamos e a hora voou, logo tivemos que voltar a unidade de saúde. Lá, nos reunimos com o professor e os demais colegas e dividimos nossas experiências domiciliares. Foi bom ver que a maioria tinha gostado do que viu e ri de algumas situações engraçadas também. No fim das contas o dia tinha sido muito bom. O crescimento pessoal havia superado minhas expectativas e ainda restavam três semanas por ali.

(Portfólio) Feriado - Carnaval


3 de Março de 2014
Feriado - Carnaval
         
          Neste dia ainda estávamos em pleno carnaval, então obviamente, não houve aula.
          Agora que o carnaval passou é interessante pensar na significância que esta data tem no calendário nacional. Sem choro nem vela, a vida começa após o carnaval, Ainda que façamos promessas de um ano melhor no ano novo, nos damos o prazo de tolerância até depois do carnaval. E, nos locais em que o ano começa logo após o ano novo, a impressão que tenho é de que as coisas meio que se arrastam, como se estivessem acontecendo por pura obrigação.
          Será que nós, brasileiros, precisamos mesmo de uma quarta de cinzas para renascer? Para recomeçar a vida ou continuar de onde ela parou?

(Portfólio) Família



Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda a noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'

(Portfólio) Apresentação da disciplina e considerações gerais a respeito do sus


10 de fevereiro de 2014 
Apresentação da disciplina e considerações gerais a respeito do sus 
            
            (...)
          Ao escrever esta parte do portfólio não consigo esquecer que, na mesma semana que tivemos essa aula, o irmão de uma amiga morreu e, isso ainda mexe um pouco comigo. Um misto de dor (por me colocar no lugar dela e perder um irmão tão precocemente), raiva (por ver o quão pouco vale a vida e como a violência é aleatória) e pena (por ver o quanto as pessoas estão perdidas) É uma junção de sentimentos e sensações tão grande, que me faltam palavras para descrever (acho que sentimentos genuínos são indescritíveis). Passei uns dias ouvindo uma música chamada Ainda há tempo, de Criolo, na qual ele diz que não existem pessoas más, elas só estão perdidas. Concordo. Eis um trecho que fico repetindo em minha mente:
“Deus sabe sempre o que tá fazendo
Mesmo sabendo disso eu sofro, vai vendo
Quem tem noção das coisas,
sente o peso da maldade
A cobrança é maior (...)”
          Viajei né? Ou talvez não.  Violência, sentidos... tudo isso influencia no nosso bem-estar e, consequentemente, na saúde, certo?

Nova tag! + Portfólio

Ontem fui procurar um material para um trabalho da residência e encontrei uns portfólios que produzi em uma disciplina da faculdade. Um em 2014, quando pagávamos a disciplina de fisioterapia na atenção básica, a qual uma parte era na sala de aula, com muita teoria e a outra era, de fato, na comunidade. O segundo portfólio foi em 2015 e já era o estágio na atenção básica, no último período da faculdade. 
Lendo relembrei de tanta coisa, fez bem refletir o quanto eu gostei de me inserir na atenção básica e ver que isso perdurou e tem se concretizado cada vez mais nos meus caminhos profissionais. A gratidão por continuar ajudando permanece e cresce a cada dia e eu não poderia me sentir melhor non exercício de uma profissão. Para quem não está familiarizado com portfólio, vou colocar aqui algumas definições, que usei nos trabalhos mesmo:

Sm. 1. Pasta de cartão usada para guardar documentos em geral; 2.  Pasta contendo material de um ilustrador, etc.
 Minidicionário Soares Amora, 2009.
 SM. 1. Cartão duplo desdobrável usado para guardar papeis; pasta, porta-fólio. 2. Conjunto ou coleção do que está ou pode ser guardado num portfólio. 3. Conjunto de trabalhos de um artista ou agência usado para divulgação.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2009

Assim, adaptando a palavra Portfólio para a realidade acadêmica, é um conjunto de documentos a respeito de um tema comum, além de contar com nossa visão reflexiva. No meu caso, especificamente, tratava-se de um conjunto de textos a respeito da minha vivência na comunidade, como fisioterapeuta em formação.


Eu me dedicava muito a produção dos textos, acho que coloquei mais reflexões e devaneios do que elementos acadêmicos. Fiquei orgulhosa com a forma que eu escrevia e refleti sobre como escrevo hoje, acho que a dificuldade de tempo para me dedicar a ler e escrever já refletem no meu processo criativo, mas enfim, vou compartilhar aqui algumas coisas. Não vale rir de uma menina que achava que seria a próxima Martha Medeiro, tá? Obrigada, de nada.




01 de fevereiro de 2014
Auto apresentação

Antes de iniciar de fato o assunto “fisioterapia em atenção básica”, julgo importante que saiba um pouco sobre mim. Não a acadêmica do nome completo da capa, só Yara, para que entenda um pouco dos meus possíveis devaneios no decorrer deste trabalho.
O meu nome não preciso dizer, já foi dito. Sou de Macau e moro aqui há três anos. Vim para estudar mesmo e é tudo que tenho feito desde então. É impossível dizer que não sinto saudade de casa e vontade de voltar a morar lá um dia. Lá eu tenho meus pais, irmãos e meu mascote, Tyson, o poodle mais carinhoso desse mundo. Sinto saudade da minha casa e da minha janela que dá vista para o rio Piranhas-Assú (Esta parecendo um roteiro de Nicholas Sparks, mas é tudo verdade, eu juro). Sinto saudades de muita coisa da minha terra natal, mas, o que me mantem aqui é o fato de que depois disso tudo eu poderei ajudar muita gente com os conhecimentos que venho absorvendo através da faculdade e de todos os meus esforços. Depois dos atendimentos realizados no semestre passado vi que tudo isso vale a pena.
Podem me chamar de nerd (aliás, já chamam), mas eu gosto de estudar e cada vez que compreendo algo novo, me encanto mais pelo saber. Acho que tenho um vício: quando algo me interessa, tudo que eu puder pesquisar é pouco para suprir minha curiosidade a respeito daquilo. Conhecimento me fascina, o que me leva a falar de outra das minhas paixões: Leitura. Eu aprecio a leitura e está é uma relação antiga. Através da leitura consegui, ao longo dos anos, aprimorar meu vocabulário, interpretação, expressão, imaginação e escrita.
Então, eu gosto de estudar, ler e escrever e não demorou muito para eu me arriscar numa amostra de docência, de modo que em 2013 participei de um processo seletivo para uma monitoria e passei. De fato não tinha muita esperança de passar, mas aconteceu. E foi uma das minhas melhores experiências acadêmicas. Eu cresci em diversos aspectos. Aprendi muito mais do que quando estudei as disciplinas, fiz amigos e ainda ajudei muita gente. Ensinar por um ano foi uma experiência fantástica e eu não quero parar por ai. Quem sabe no futuro possamos ser colegas no ensino, não é mesmo professor? Já disse Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”, eis um dos meus planos para o futuro.
Acho que agora podemos começar de verdade. Se eu falar muita besteira entre os textos é por causa da minha mania aguçada de imaginar pelo hábito de escrever.



sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Novo corte

Chegou no salão e ao perguntarem o que ela gostaria naquela tarde ela disse: 
- Quero um corte que dê leveza e movimento. Algo alegre e bonito. 

Mal percebera que o pedido não era para o cabelo e sim para a vida.

sábado, 13 de outubro de 2018

Lugar de paz

Olhei minha casa e senti algo estranho: não tinha cara de casa. Na verdade, se pensar bem, eu não me sentia à vontade em nenhum espaço, então talvez fosse mais um problema meu do que da casa. Sei lá, essa semana o mundo tava tão no sense, com notícias que poderiam ser piadas se não fossem realidades trágicas que eu me senti fora do ar. Nada disso combina com o que acho certo, com o estado de paz que tento manter, com a vibração que eu tento levar comigo, em mim. São dias difíceis para sonhadores, para quem tenta acreditar que as coisas podem ser boas, que as pessoas podem mudar de forma positiva.
Bom, voltando a casa, ela estava de um jeito que eu não lembro de ter visto outra vez: Na sala haviam roupas em todas as cadeiras, poeira retratando que a casa não foi varrida essa semana; na cozinha tinha louça suja (tipo, uma semana), fogão engordurado, comida estragada na geladeira; roupa no chão do pequeno escritório, pastas e papeis espalhados, livros caídos da estante; e, por fim, meu quarto que estava empoeirado, cheio de roupas amassadas em uma pilha que acabou caindo algum dia e ficou espalhada pelo chão. Como eu estava vivendo aqui? Mais parecia uma casa abandonada. 
Eu levo em consideração uma teoria que li há alguns anos a qual afirma que minha casa (externa) é um reflexo de mim (internamente) e sempre que vejo uma bagunça a mais na externa, reflito e vejo que a interna também está precisando de uma ordem. Dessa vez não foi diferente e, ao me dar conta disso, me senti muito mal e incomodada. Feriado e final de semana juntinho é bom, né?! Vontade de viajar, aproveitar mas, eu não ia conseguir aproveitar nada enquanto não desse um jeito nessas minhas moradas. Fiquei em casa e foi uma ótima decisão.
Coloquei aquela boa playlist bem alta e cantei junto cada verso. Lavei louça, o fogão, a geladeira, separei e organizei as roupas, tirei a poeira de todos os moveis e coloquei objetos em seus lugares. Pensei no que está acontecendo lá fora, como isso tem me afetado e o que eu posso fazer para bloquear isso. Coloquei o lixo fora, cuidei das minhas plantas, fiz almoço e passei pano na casa. Acendi um incenso, tomei banho, abri uma cerveja e fiquei sentada no chão, olhando para minha casa. Ela estava um caos quando acordei e agora estava assim: cheirosa, aconchegante, limpa. Deu uma sensação de paz então sorri, orgulhosa e naquele momento eu relembrei que sim, da para consertar as coisas, dentro ou fora de mim, desde que eu respeite o meu tempo (e tenha uma boa playlist), da para ter um lugar de paz no meio de todo esse caos que estamos vivendo e enquanto eu mantiver as coisas em ordem aqui onde vivo, será mais fácil lidar com o que vem de fora, dos outros. 



A paz invadiu o meu coração/ De repente, me encheu de paz/ Como se o vento de um tufão/ Arrancasse meus pés do chão/Onde eu já não me enterro mais/ (...) Eu vim/ Vim parar na beira do cais/ Onde a estrada chegou ao fim/ Onde o fim da tarde é lilás/ Onde o mar arrebenta em mim/ O lamento de tantos "ais"
A paz - Gilberto Gil e João Donato

Vibes

O redator - Zimbra
Sintonia - Nx Zero
Meu vão - Phill Veras
Pensando bem - Tó Brandileone e Pedro Altério 
Tudo fora de lugar - Mariana Nolasco
Pra você guardei o amor - Nando Reis
Então você - Zimbra
Vou por ai - Angela Ro Ro
Agora eu quero ir - Anavitória
Sentimentos confusos - Raffa Mogi
Ausência - Marília Mendonça
Ainda não passou - Nando Reis
Breve - Zimbra
Pra você dar nome - 5 a Seco
Origami - Mar Aberto
O destino não quis - Maneva
Quem vai dizer tchau? - Nando Reis
Eu te amo e nem sei - Zimbra
Grito de alerta - Gonzaguinha
Acabou de Acabar - Phill Veras
O tudo, o nada e o mundo - Zimbra
Que amor é esse? - Zeca Baleiro
As canções que você fez pra mim - Maria Bethânia
Vou te escrever um rap - Atitude 67
Trem - Zimbra
Amianto - Supercombo
Fátima - Capital Incial
Por nós dois - Zimbra
Baby eu queria - Nando Reis

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Nota de pesar

Cá estou olhando para minha estante, cheia de livros não lidos que eu quero ler mas não consigo. É estranho lembrar que eu era uma leitora ávida e agora me sinto sem capacidade de ler um livro de 400 páginas (que outrora me era sedutor). Escrever também não é mais uma realidade, ainda que eu tenha muitas palavras e sentimentos para colocar para fora, está tudo acumulado aqui e sem data para ir embora, infelizmente.
Sabe, o que era natural parece não se encaixar mais e isso até dói pois muita coisa me fazia bem. Eu não sei... tô perdida de mim e essa sensação só piora quando olho para a realidade do nosso país, das pessoas que nos rodeiam e se dizem de bem mas abraçam e cultuam o que é mal. Eu não entendo. O mundo está ao contrário e ninguém reparou.
E, sabe, está difícil sonhar e vibrar positividade nesse cenário cinza de puro caos, suor e sangue.
Se alguém me achar por aí, me devolver pra mim.

Tudo passa, tudo passará. 
E nossa estória, não estar 
Pelo avesso assim 
Sem final feliz. 
Teremos coisas bonitas prá contar. 
E até lá vamos viver 
Temos muito ainda por fazer. 
Não olhe para trás 
Apenas começamos 
O mundo começa agora 
Apenas começamos.”


P.S.: o livro segue fechado.

sábado, 25 de agosto de 2018

Mercúrio em Peixes

Depois que eu comecei a estudar astrologia passei a encontrar um autoconhecimento que eu nem sabia que poderia existir nos astros. Quadraturas, sinastria, mapa astral, evolução, revolução solar, casas, planetas... é tanta coisa nesse meio que as vezes me perco, viajo.
Um dos aspectos que achei mais interessante no meu mapa, até agora, foi esse mercúrio logo em peixes, tudo fez sentido depois que o descobri em mim. Mercúrio fala sobre raciocínio, comunicação, tem um quê de lógica e racionalidade. Peixes é da água, pura emoção, vai do 8 ao 80 em segundos. Eis o meu racional: cheio de uma emoção visceral.
Eu faço, entendo e falo coisas com muito mais emoção do que precisaria ou deveria. Não significa que eu choro ou escandalizo, mas eu sinto, sinto muito. Tudo. Se eu leio um livro eu imagino cada detalhe descrito; se ouço uma música eu imagino o contexto que foi escrita, a sensação de quem escreveu e quem serviu de inspiração; se alguém me conta uma situação que passou eu me vejo naquele lugar ou consigo visualizar perfeitamente aquela pessoa lá; eu tenho imaginação aguçada e as vezes me ponho em situações hipotéticas e consigo sentir dor, até mesmo física. 
Empatia eu tenho, e muita, nem queria ter tanta pois acabo me envolvendo em histórias que nem me cabem, não consigo ver um problema e não querer ajuda, não me preocupar. 
Mercúrio em peixes é confuso pois, o que era para ser razão é emoção que não se contém. Quando eu lembro de um fato o que vem a minha mente primeiro é o que eu senti ali, se foi divertido, lembro dos cheiros, das pessoas... Não me pede para contar algo pb, eu gosto de cores, vida. Vivo numa intensa contradição entre enfeitar o mundo com palavras e formas inspiradoras de o ver e a realidade cinza que nos cerca. É difícil sonhar aqui, sabia?! Por isso eu vivo me ausentando, viajando pro meu mundinho que funciona no seu próprio tempo, bem aqui na minha cabeça, basta eu olhar pro nada por dois minutos e já estou lá, caçando a mim mesma, numa busca sem fim.
Isso pode ser bom ou ruim, depende do momento. 
As vezes me frusto quando não entendem que as coisas são mais do que preto no branco, quando não entendem minha inquietação com o que não é o X da questão, quando tento explicar que vejo que vejo as coisas de forma bem mais ampla que esse pontinho para o qual todos apontam e é obvio, então desisto, canso e fujo.
As vezes a gente tem que tá aqui, mas insiste em fugir.
Eu me refugio na minha mente e nas palavras que escrevo ou leio. Na minha bagunça eu me perco e me acho, me organizo no meu caos. Cresço nos conflitos que só eu vejo e sinto. Na arte eu me fico à vontade, todas começam de uma viagem do artista.  
Por ser movida a emoções minhas certezas são meio instáveis, dependem muito do que estou sentido, dos meus dias e essa é uma característica que eu não gosto tanto mas é bem forte no meu comportamento, no que me faz ser quem sou. Meu instinto também é muito forte, e eu posso me fazer de doida, mas sei que ele esta certo, quase sempre está mesmo que eu não queira. 
Mercúrio em peixes me joga numa viagem da imaginação no terreno da razão, do sentimento no racional, do abstrato no concreto. É doido, instável, entranho, belo, confuso, inspirador e fascinante. É multiplicar tudo, potencializar o ponto, a vírgula e a exclamação. 
Exclamar cada sentimento. 
E sentir tudo que nem sempre é sentido.

A luz que o outro traz

Acordei já me sentido cansada, assim como ontem, anteontem, semana passada... Os dias não têm sido como eu imaginava. As vezes me pergunto se estaria me sentindo assim se tivesse feito outras escolhas, sei lá, nem vale muito a pena né?! É aqui onde estou agora.
Saio cedinho e as alegrias do dia ainda estão em ajudar os outros, ainda bem que posso, mesmo que o tanto que eu faça não seja reconhecido e eu seja tratada com mais desdém que uma aluna de primeiro período e não como a profissional que me esforço para ser.
Fiquei feliz que esse dia chegou, cheio de atividades externas, o que me proporciona sair daquele ambiente que me desanima. Mesmo tento um turno lá pelo menos eu estaria bem ocupada dessa vez.
Cheguei para meu atendimento no horário habitual, organizei minhas coisas, vesti o jaleco e esperei os prontuários chegarem. Enquanto não vinham, observei a sala. Um espaço de mais ou menos 3m², teto alto, paredes pintadas de amarelo com várias partes caindo, deixando transparecer o branco de uma tinta anterior e cheias de infiltrações. A iluminação também não é muito boa e há um cheiro de mofo e insetos quando ligo o ar condicionado (antigo, barulhento e que pinga dentro da sala), o que deixa o ambiente pouco confortável até mesmo para mim que mal noto o lugar hoje me dia. Acho que me habituei. 
As cadeiras são antigas, de metal, pintadas em um tom marfim e se arrastadas fazem um barulho bem irritante. A mesa á minha frente tem um tampo de granito cinza e é instável, de modo que se eu não me apoiar corretamente quando for escrever ela fica pendendo para um lado e para outro. Por mais que eu soubesse (ou achasse que soubesse) da realidade da atenção básica no país, não imaginava que estaria numa lugar assim. Dei mais uma rápida olhada, suspirei e decidi que já era hora de começar.
O primeiro caso foi uma senhorinha fofa, com cara de vó que faz bolo e crochê pros netos, sabe?! A consulta foi proveitosa pois vi nela vontade de mudar e permissão para que eu possa ajudar e isso vai me dando doses de alegria, por saber que estamos plantando uma boa sementinha ali, que o tanto que estudei e estudo vai servir para dar qualidade de vida a alguém que pouco conheço mas me importo.
Parcialmente revigorada, chamo o segundo paciente do dia, e ai vem ele. Mal sabia o que me esperava: um rapaz educado, inteligente, de 6 anos, acompanhado por sua mãe. 
Ele usava um óculos com armação estilosa, tipo de nerd e estava todo arrumadinho. Uma graça. Contou-me sua história muito bem e sozinho, conversava bem e eu já estava animada com aquela criança. Sabe, materno-infantil é uma área que eu gosto bastante e pretendo seguir; atender crianças me faz entrar num outro modo da minha profissão, no qual eu tento deixar essa criança o mais confortável possível, não usado palavras difíceis, brincando e respeitando suas preferencias dentro do possível para exercer meu papel.
Em determinado momento a mãe me contou que ele havia comentado em casa que, caso eu o restringisse de algo que ele gosta muito, não ia querer me ver mais e, por mais que fosse algo que eu não indico, era algo que poderia ser mantido por enquanto. Com isso ganhei a confiança do rapaz a minha frente. Ponto pra mim.
Terminei minha avaliação, sondando o que ele gostava e não gostava e fiz alguns acordos, tentando melhorar o que ele gostava. Ao final ele parou, solenemente, e disse: Tudo bem, eu vou fazer tudo isso que você pediu, estou fazendo um juramento com você." Nesse momento ele estendeu a mão direita com quatro dedos flexionados, mantendo apenas o mindinho estendido. Sim, ele estava fazendo um juramento do dedinho (aliás, do mindinho, como ele mesmo me corrigiu) comigo.
Aquilo me pegou de surpresa. Aquela inocência e seriedade que ele estava depositando no nosso momento me desconcertou de um jeito que eu não estava preparada, só em lembrar sinto as lágrimas arderem nos olhos. Sabe quando você esta fazendo um esforço colossal para se manter firme e vem alguém sorrindo e diz algo que lhe conforta de algum modo? Foi tão revigorante, tão belo, mesmo naquela sala de pouca ambiência, mesmo no local que eu pouco sou reconhecida pelo meu trabalho, ali com o dedinho estendido aquela criança brilhou. Brilhou de um jeito que na simplicidade (para muitos) do seu gesto foi a luz que eu precisava e não sabia, ou sabia e fingia que não precisava por não saber onde encontrar.
E quantas pessoas a gente encontra disposta a iluminar nossos dias, não é?! Quantas vezes a gente corre da luz com medo de cegar, nos acostumamos a sofrer calados ou reclamar sem ação, sem tentar mudar.
Crianças são a representação do recomeço, esperança, são verdeiras, tão e transmitem sinceridade. Nos últimos dias eu me encontrava num estado de cobrança e autocobrança frequente, pensando no futuro e me sentindo inerte, sem certezas. Tenho me desgastado com situações que me fazem mal e por mais que eu tente não pensar, hora ou outra elas vêm. Momentos como esse, com essa criança de 6 anos, que durou menos de um minuto, mudou minha energia e eu duvido que em sua inocência ele soubesse que poderia tanto com aquele dedinho solene.
Segurei-me para não chorar ali, mas em casa me permiti senti, deixar ir o que me incomodava e não merecia estar mais em mim. Fiz um juramento comigo mesma: lembrar daquele momento ou similar, quando me sentir esgotada. Buscar pessoas que transmitam luz e levar aos outros também. Estar entre iluminados nos afasta das sombras e reacende o caminho que vez ou outra some.
Rapazinho, muito obrigada por confiar em mim e me relembrar do bem que uma criança pode fazer. Já estou ansiosa por sua próxima visita.

"Vamos fazer o juramento do dedinho mindinho

Juntar o meu mindinho com o seu mindinho 

Então fechou o trato tá feito."

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Doses de ocitocina

Essa é uma lista simples e cheia de amor, feita com uma amiga com o objetivo de nós encher de paz. Escrita em dupla ou em trio, se considerar a comunhão com Deus que certamente estava conosco, achando ótimo. Ela nos aproxima de nós mesmas, da outra e dEle. Achei tão bonito que não resisti não dividir com quem mais queira (nos) ler e que bom que ela concordou com isso.

1- Deus sempre tem um propósito maior até no que nos parece ruim;
2- Eu sou capaz disso e muito mais;
3- A cada pessoa negativa por perto há pelo menos 3 positivas comigo;
4- Minhas escolhas me trouxeram aqui;
5- Na falta de opções, sempre há uma panela de brigadeiro por perto;
6- Sempre ao final do dia, agradecerei;
7- Eu fui o motivo do sorriso de alguém hoje; 
8- Lembrar que o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço; não hesitar abraçar alguém;
9- Chorar se precisar, isso não é sinal de fraqueza;
10- Nós somos fortes, e não há quem prove o contrário;
11- Nada é mais belo do que o mundo pelo olhar de uma criança;
12- Sempre temos um lugar para voltar e recarregar as energias;
13- Contar com quem se importa com nós, sem essa de disfarçar ou querer ser fortona;
14- Fazer algo que gosto por hobbie mesmo;
15- Antes de dormir pontuar as coisas boas do dia, só as boas;
16- Por mais que o dia esteja ruim, tentar ser luz na vida de alguém, com coisinhas aparentemente simples também, tipo uma lista;
17- Música sempre, dançante melhor ainda (não preciso dançar bem também, mas se mexer sim);
18- Conversar com Deus ou sobre ele, em qualquer lugar;
19- Isso é uma fase e, como toda fase, há desafios e aprendizados valiosos;
20- Deus nos capacita para tudo então se está ralado é porque Ele sabe que a gente consegue;
21- Ser feliz com coisas simples do dia a dia;
22- Às vezes a melhor terapia é tomar uma xícara de café com sua amiga;
23- Meditar um pouco; 
24- Brincar com meus sobrinhos;
25- Rever fotos antigas;
26- Por mais que esteja se sentindo ruim, sempre dá para ajudar alguém.


Se você chegou até aqui, espero que esta listinha tenha te levado paz também.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Fofoca Reversa

Você já foi vítima da fofoca reversa? Funciona assim: Quando você chega num ambiente as pessoas apontam para você e cochicham "é ela" "essa ai, ó"; você vai passando em algum lugar e ouve seu nome no meio de uma conversa; e as vezes alguém te para no meio de seu trajeto em um dia normal para falar o que pensa de você, na sua cara. 
E sabe o que mais? É a melhor coisa do mundo.
Eu já passei por isso outras vezes, mas hoje parei para refletir sobre minha alegria com meus dias e conclui que a fofoca reversa tem lá sua contribuição no meu estado de espírito, vê se não é motivo suficiente.
Cheguei no trabalho com uma roupa comum na minha prática, legging, camiseta e sapatilha, pra variar um pouco, coloquei um turbante e óculos de sol. Pronto, foi o suficiente para que houvessem cochichos quando cheguei. Passei novamente no corredor e alguém pergunta "Você é a fisioterapeuta?" Sim, respondi, já imaginando que a senhora ia reclamar por causa do horário ou coisa assim, mas para minha surpresa ela abriu um sorrisão e disse "Que coisa boa! Além de ter minha consulta hoje ainda será com você, tão linda! Me ensina a fazer esse penteado?" Ensino sim, pode deixar, chamo já a senhora. (Rindo desde o sorriso dela).
Chamei a primeira pessoa e os elogios continuaram, e melhor que isso, relatou estar observando melhoras significativas, estando praticamente de alta. O segundo disse que faz todos os exercícios e não sente dores relevantes, acredita que com a ajuda deles pode ficar bom, e pode mesmo. Disse que contou para um amigo e o amigo não acreditou ai ele mostrou uns e o tal amigo tentou fazer em casa e disse que sentiu-se bem "Mas vá lá na 'doutora' que ela te consulta, avalia e passa exercícios pra você", ele disse. "'Doutora' enquanto eu tava ali fora esperando, fiquei conversando com o senhor e ele disse que tem dor no punho. Eu disse que não tinha porque fazia esse alongamento aqui que a 'senhora' ensinou e mandei ele te procurar porque a 'senhora' tem uns exercícios certos". A terceira recebeu alta, dizendo não sentir mais nada há duas semanas, só disposição. Ensinei a amarração do turbante para a senhora que me parou na recepção e ela disse que queria em outra ocasião ver meu cabelo solto porque disseram a ela que ele é lindo e que tentará fazer a amarração em casa e se der certo, nem na próxima consulta. Engraçado pensar que algum dia da minha vida eu tive receio em usar esse cabelão volumoso, esse turbante alto e chamativo ou que já ouvi alguns comentários desnecessários sobre esse mesmo cabelo. Como é bom ver que nada é, tudo está.
A noite ouvi uma amiga questionar por quê a medicina era tão valorizada se a fisioterapia era Deus em forma de profissão, pois só poderia ser algo d'Ele o que fazemos com as mãos. Achei tão lindo, me desmontou toda, tamanho elogio não a mim mas a profissão que me escolheu.
E coisas desse tipo seguiram ao longo do dia. No dia anterior, no outro, no decorrer da semana... Como a pessoa fica senão grata?! Grata por poder usar o que aprendeu para ajudar o outro que eu mal conheço mas me procurou por ter alguma esperança que posso fazer alguma coisa por eles. E eu tento, tento muito. E quando dizem que falam por ai o quanto se sentem bem, que conseguem fazer coisas que há tempos não faziam... Alegria sem fim em sentir podemos ser luz e levar o bem.

Se você já foi "vítima" de fofoca reversa, não cale-se, passe a ideia a diante, pratique também. Fale, inclusive, na cara e melhore o dia de alguém. Todos estamos interligados de uma forma ou de outra e, o bem que você faz volta para ti. 

Escolha bem a energia que você emana.

Muita luz!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

O que eu quero antes dos 30

A ideia veio de uma amiga e eu me empolguei na hora com a pergunta, primeiro porque eu gosto de pensar na vida, traçar metas, planejar. Segundo por que amo listas. Então, vamos?
Quantas vezes na vida perdemos uma oportunidade por não estarmos prontos para ela? Traçar metas é mais que sonhar, é dá subsidio aos sonhos para que eles sejam projetos. Projetos realizáveis. E eu amo isso. Amo ter uma lista de coisas tracejadas por já ter realizado, cumprido e é por isso que estou sentada aqui agora, para traçar alguns planos para os meus próximos 5 anos. Graças a Deus, já alcancei algumas coisas que eu queria para minha vida quando mais nova, então acho que estou no caminho.

Em 5 anos quero:
- Estar concursada;
- Ter meu próprio negócio;
(com esses dois já dar para ter a sonhada estabilidade financeira, né?!) 
- Fazer meu curso de microfisioterapia;
- Fazer cursos na minha área, pelo menos um por ano;
- Mais uma pós graduação ou mestrado;
- Ter minha casa/apartamento projetado, com móveis sob medida, varanda com plantinhas, piso porcelanato, uma adega com os mais variados vinhos, cozinha com cooktop e panelas antiaderentes da polishop kkkkk, tudo bem lindo *-*;
- Fazer viagens para lugares novos, uma ou duas vezes por ano e pelo menos uma grande e inesquecível viagem;
- Aprender idiomas. Português e mais um ou dois (Não me julgue! Vai dizer que sabe usar aquelas orações subordinadas?! Seeeei...)
- Estar no casamento das minhas amigas, se possível como madrinha;
- Casar? Será? Pode ser, né?! É uma boa ter alguém por perto para dividir a vida
- Ser mãe de uns 3 ou 4 bebês de 4 patas *-*
- Falar nisso... ser mãe já não me parece algo tão absurdo, mas veja bem, realmente não é uma das minhas metas de vida, eu já falei sobre isso aqui. Porém... Se algum dia eu ficar doida e tiver um, que seja antes dos 30, ah! e ele(a) não poderá ser filho(a) único(a), porque acho crianças assim muito sós e ter irmãos é uma verdadeira benção por inúmeras razões.
- Me envolver ativamente em algum projeto social, tenho algumas ideias já mas não defini bem ainda, espero firmar e executar as ideias até os 30.
- Escrever e publicar um livro, nem que seja uma tiragem baixa, só pros meus fãs de carteirinha (ler-se amigos e família).
- Poder olhar essa lista e ver os itens riscados por estarem cumpridos.

É isso, vou ficar voltando aqui de vez em quando para rever os itens e se possível marcar como feito. E você, o que quer antes dos 30?