Essa noite alguém querida para pessoas que quero bem fez aquela última viagem que a gente tanto teme (aqueeela) e sempre que essa tal dona Morte aparece eu fico pensativa. Hoje, conversando, lembrei de um bom amigo que fiz durante a faculdade, uma das melhores pessoas que tive o prazer de conhecer. Na época em que ele se foi, em janeiro de 2015, eu escrevi esse texto, talvez para tentar organizar meus pesamentos com todas aquelas emoções. Seu Mardônio, espero que esteja em paz e bem;)
Eis o texto:
"Cumpriu sua sentença.
Encontrou-se com o
único mal irremediável,
aquilo que é a marca do nosso
estranho destino sobre a terra,
aquele fato sem explicação
que iguala tudo o que é vivo
num só rebanho de condenados,
porque tudo o que é vivo,
morre."
(Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida)
Ontem a senhora Morte soprou aqui perto de novo. Dessa vez levou um querido amigo, que todos os dias me recepcionava com um sorriso amável, perguntando por minha Terrinha Salgada e fazendo piadas (a respeito da minha distração, principalmente). Apesar da sensação de ter sido tudo rápido demais, percebo, pensando bem, que ela já o rondava, sutilmente em suas longas vestias de cetim. Há um par de meses ele estava um pouco mais calado e ausente. Algo estava errado. Não demorou para Ela abraçá-lo e afastá-lo do nosso convívio. Ontem ela deu-lhe o Beijo, aquele que a gente espera que não ganhemos tão cedo. O dele veio cedo demais.
No entanto acredito (e espero profundamente) que Ela tenha sido gentil e o levado pela mão, como se leva um velho e querido amigo. Espero que ela tenha vestido sua melhor túnica, que o Beijo tenha sido suave e sua viagem tranquila para o lugar que ele merece estar. Não sei como é do outro lado, mas imagino que seja num lugar tranquilo com música boa e felicidade perto de outras boas pessoas que se foram. Ele, com toda sua gentiliza, bom coração e amor incondicional ao próximo, deve estar em um lugar assim. Se formos realmente julgados e recompensados pelo bem que fizemos em vida ele, ah, meu amigo, você deve estar bem e feliz, seja lá onde for. Apesar da tristeza que me consome ao escrever essas linhas, sinto um tantinho de alívio, por saber que seu sofrimento foi cessado, por ele está finalmente livre da doença que o limitou e o afastou de nós. Agora está em paz. Livre.
Não consigo imaginar qual será a sensação de voltar àquele lugar e não te encontrar lá com aquele sorriso, as piadas e os braços abertos perguntando como foram as férias. Não consigo imaginar ficará ali sem você. Acredito que a sensação de vazio vai tomar o recinto e todos que passam por lá(que te conheceram), vão perceber, lembrar de você e sentir sua falta. Nessa hora eu farei uma pequena oração e talvez acabe chorando.
Nosso tempo aqui é marcado com precisão e a cada tic-tac estamos mais perto do fim que pode ser daqui a cinquenta anos ou daqui a cinco minutos. Não dá pra saber quando será o último tchau ou em qual esquina vamos esbarrar com essa Senhora que nos leva sem qualquer chance de despedida. Talvez isso seja o que dói mais para quem fica.
Seu Mardônio, vá em paz e faça muitas piadas e amigos por ai. Obrigada por tudo que você fez aqui na Terra, por mim e por todo mundo ao seu redor, por seu carinho e amizade incondicional. Obrigada por ser como um pai pra tanta gente que conviveu com você. Obrigada, Deus, por nos emprestar um ser tão bom, para nos ensinar tanto a respeito da vida, do amor ao próximo, da entrega, do bem.
"Vai com os anjos vai em paz. Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade. Até a próxima vez..." (Legião Urbana)
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