Senta ai, perceba sua respiração e vamos falar sobre biodança.
Na verdade, eu vou falar um pouco sobre uma vivência e espero conseguir metamorfosear isso, transformar em palavras e te fazer sentir o que senti (meta extremamente difícil).
Para quem não sabe, biodança (ou dança da vida) é uma prática que proporciona o encontro de pessoas com um grupo e com si, além de estimular sentidos e sentimentos através da música. A cada melodia uma nova linha de vivência pode ser estimulada/trabalhada.
Há vários momentos, com vários ritmos também, uns em grupo, em dupla, ou individuais; a cada troca, era possível perceber o coração pulsar sangue por nossas veias e artérias, sentir o ar entrar e sair dos meus pulmões, sentir minhas pernas sedentárias reclamarem das minhas pequenas extravagâncias, sentir coisas que eu não sinto, ou dou pouca atenção quando sinto. Um dos momento que provavelmente vou guardar por um (bom) tempo foi o de uma melodia lenta e individual no qual nos portávamos sozinhos de olhos fechados e lentamente nos espalhávamos no ambiente, até estamos espalhados no chão, vários corpos se encontrando (com si e com o outro). Ao final nos reuníamos no centro e ficávamos sentido ali, simplesmente sentido: a música o toque, o chão frio, um carinho aqui, outro ali ao som de músicas de ninar.
Sabe, eu tinha uma tia que durante minha infância sempre nos cantava músicas e inventava brincadeiras para nos entreter, ela era divertida apesar das muitas tristezas e problemas de saúde. Com o passar do tempo ela se mudou e nós nos afastamos, coisas da vida. Há uns 2 anos fui visitá-la e ela se quer me reconheceu, estando completamente imersa numa realidade só dela, até que há uns 10 dias às 6 da manhã recebi a notícia que ela havia falecido. Não foi realmente uma surpresa, afinal, ela estava em coma a cerca de 1 ano, já não se expressava, estava nos deixando. Até o momento daquela cantiga de ninar começar eu não havia me dado conta que não tinha chorado, sentido a falta dela, então, ali deitada no meio daquele emaranhado de corpos eu ouvi aquela cantiga que ela cantava e... chorei. Permiti-me as lágrimas, assim como fiz com o riso. Permiti-me sentir, liberar sentimento contido que até então eu não sabia estar contendo. Perceber isso foi como tirar uma venda, como abrir uma janela (interna ou externa?), quanta coisa podemos conter por hábito do cotidiano? Quanto cabe em cada pessoa?
Chorei no chão e no momento seguinte, quando estávamos numa roda, abraçados pela cintura e embalados com uma música de aconchego, eu soluçava de tanto chorar e não me importei com isso (diferentemente da minha versão anterior, que era a versa a tais expressões). No fim das contas eu me senti bem, percebi que tenho me afastado muito de mim, de quem quero ser, entrado cada vez mais num piloto automático. Estar ali, hoje, me proporcionou um reencontro comigo mesma, olha... eu nem sabia que estava com tanta saudade de mim!
A vivência da biodança enfatiza o toque, o se sentir, sentir o outro, encontros (externos e internos), relaxa e nos tira dessa rotina que muitas vezes nos suga, leva nossa energia vital e positividade. No mais, obrigada a todos os presentes por participarem desse momento de tamanha leveza e reencontro. Até a próxima!
"Música é um relacionamento que nunca vai te decepcionar
Um portal que conecta o corpo, a alma, a vida
É o que me faz acreditar nas pessoas ainda"
Sérgio Dall'Orto
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