sexta-feira, 23 de junho de 2017

Velhos olhos, novas perspectivas

Esse ano tem sido tão intenso que me surpreendo ao fazer algumas leituras e reflexões. No começo do ano ouvi de meu oftalmologia que só tenho cerca de 25% de acuidade visual, ou seja, uma visão péssima. E olha, eu só tenho 24. Como eu fiquei? Tão péssima quanto a visão... Foi difícil imaginar que nunca poderia dirigir, reconhecer pessoas a distância, escrever ou simplesmente ler um livro sem dificuldade. 
Curti minha bad, aliás, curto vez ou outra desde que descobri isso, o ceratocone (cerato, pros íntimos). Apesar da experiência fracassada em tentar usar lentes no passado, tentei de novo. Precisava tentar, por mim.
Hoje, há uma semana usando lentes, quase choro na estrada, ao parar perto de uma placa e conseguir ver suas linhas bem definidas. Ontem consegui enxergar as folhas da copa de uma árvore distante; cara, você não faz ideia de como eu fiquei feliz em conseguir ver a cidade de origem na placa do caminhão ali na frente.
Desde que coloquei as lentes fico rindo e com vontade de chorar, sério. Eu não esperava voltar a ler meus livros como antes, melhor aliás, pois posso manter o livro no colo e ainda assim ver as orações com nitidez. Consigo tantas coisas e me sinto tão feliz com o mundo novo que surge através dos olhos que já perderam 75% de visão, que eu queria poder mostrar as duas formas que enxergo para que você pudesse entender o tamanho da minha felicidade e de como a vida pode ser mais linda quando aceitamos novas perspectivas, novas tentativas, quando acreditamos que há possibilidades para aquelas questões​ sem jeito.
Lindas linhas nítidas me fazem sorrir, conseguir ver o rosto dos meus pais a distância me faz sorrir, ver meus olhos no espelho me fazem gargalhar de tanta felicidade. Acredite, novas lentes podem mudar a vida, mais de uma vida até. Esse ano tem sido de pura gratidão e quando paro para pensar me faltam palavras, nunca tantas coisas boas aconteceram de uma vez em minha vida, uma das melhores foi, sem dúvida, enxergar com "novos" olhos.


P.S.: Podemos pegar essa analogia das lentes e adaptar: será que estamos enxergando as situações do dia a dia com as "lentes" certas?

terça-feira, 6 de junho de 2017

A Dança da vida e a arte dos reencontros

Senta ai, perceba sua respiração e vamos falar sobre biodança. 

Na verdade, eu vou falar um pouco sobre uma vivência e espero conseguir metamorfosear isso, transformar em palavras e te fazer sentir o que senti (meta extremamente difícil).

Para quem não sabe, biodança (ou dança da vida) é uma prática que proporciona o encontro de pessoas com um grupo e com si, além de estimular sentidos e sentimentos através da música. A cada melodia uma nova linha de vivência pode ser estimulada/trabalhada. 
Há vários momentos, com vários ritmos também, uns em grupo, em dupla, ou individuais; a cada troca, era possível perceber o coração pulsar sangue por nossas veias e artérias, sentir o ar entrar e sair dos meus pulmões, sentir minhas pernas sedentárias reclamarem das minhas pequenas extravagâncias, sentir coisas que eu não sinto, ou dou pouca atenção quando sinto. Um dos momento que provavelmente vou guardar por um (bom) tempo foi o de uma melodia lenta e individual no qual nos portávamos sozinhos de olhos fechados e lentamente nos espalhávamos no ambiente, até estamos espalhados no chão, vários corpos se encontrando (com si e com o outro). Ao final nos reuníamos no centro e ficávamos sentido ali, simplesmente sentido: a música o toque, o chão frio, um carinho aqui, outro ali ao som de músicas de ninar. 
Sabe, eu tinha uma tia que durante minha infância sempre nos cantava músicas e inventava brincadeiras para nos entreter, ela era divertida apesar das muitas tristezas e problemas de saúde. Com o passar do tempo ela se mudou e nós nos afastamos, coisas da vida. Há uns 2 anos fui visitá-la e ela se quer me reconheceu, estando completamente imersa numa realidade só dela, até que há uns 10 dias às 6 da manhã recebi a notícia que ela havia falecido. Não foi realmente uma surpresa, afinal, ela estava em coma a cerca de 1 ano, já não se expressava, estava nos deixando. Até o momento daquela cantiga de ninar começar eu não havia me dado conta que não tinha chorado, sentido a falta dela, então, ali deitada no meio daquele emaranhado de corpos eu ouvi aquela cantiga que ela cantava e... chorei. Permiti-me as lágrimas, assim como fiz com o riso. Permiti-me sentir, liberar sentimento contido que até então eu não sabia estar contendo. Perceber isso foi como tirar uma venda, como abrir uma janela (interna ou externa?), quanta coisa podemos conter por hábito do cotidiano? Quanto cabe em cada pessoa? 
Chorei no chão e no momento seguinte, quando estávamos numa roda, abraçados pela cintura e embalados com uma música de aconchego, eu soluçava de tanto chorar e não me importei com isso (diferentemente da minha versão anterior, que era a versa a tais expressões). No fim das contas eu me senti bem, percebi que tenho me afastado muito de mim, de quem quero ser, entrado cada vez mais num piloto automático. Estar ali, hoje, me proporcionou um reencontro comigo mesma, olha... eu nem sabia que estava com tanta saudade de mim!  
A vivência da biodança enfatiza o toque, o se sentir, sentir o outro, encontros (externos e internos), relaxa e nos tira dessa rotina que muitas vezes nos suga, leva nossa energia vital e positividade. No mais, obrigada a todos os presentes por participarem desse momento de tamanha leveza e reencontro. Até a próxima!

"Música é um relacionamento que nunca vai te decepcionar
Um portal que conecta o corpo, a alma, a vida
É o que me faz acreditar nas pessoas ainda"
Sérgio Dall'Orto