Olhei minha casa e senti algo estranho: não tinha cara de casa. Na verdade, se pensar bem, eu não me sentia à vontade em nenhum espaço, então talvez fosse mais um problema meu do que da casa. Sei lá, essa semana o mundo tava tão no sense, com notícias que poderiam ser piadas se não fossem realidades trágicas que eu me senti fora do ar. Nada disso combina com o que acho certo, com o estado de paz que tento manter, com a vibração que eu tento levar comigo, em mim. São dias difíceis para sonhadores, para quem tenta acreditar que as coisas podem ser boas, que as pessoas podem mudar de forma positiva.
Bom, voltando a casa, ela estava de um jeito que eu não lembro de ter visto outra vez: Na sala haviam roupas em todas as cadeiras, poeira retratando que a casa não foi varrida essa semana; na cozinha tinha louça suja (tipo, uma semana), fogão engordurado, comida estragada na geladeira; roupa no chão do pequeno escritório, pastas e papeis espalhados, livros caídos da estante; e, por fim, meu quarto que estava empoeirado, cheio de roupas amassadas em uma pilha que acabou caindo algum dia e ficou espalhada pelo chão. Como eu estava vivendo aqui? Mais parecia uma casa abandonada.
Eu levo em consideração uma teoria que li há alguns anos a qual afirma que minha casa (externa) é um reflexo de mim (internamente) e sempre que vejo uma bagunça a mais na externa, reflito e vejo que a interna também está precisando de uma ordem. Dessa vez não foi diferente e, ao me dar conta disso, me senti muito mal e incomodada. Feriado e final de semana juntinho é bom, né?! Vontade de viajar, aproveitar mas, eu não ia conseguir aproveitar nada enquanto não desse um jeito nessas minhas moradas. Fiquei em casa e foi uma ótima decisão.
Coloquei aquela boa playlist bem alta e cantei junto cada verso. Lavei louça, o fogão, a geladeira, separei e organizei as roupas, tirei a poeira de todos os moveis e coloquei objetos em seus lugares. Pensei no que está acontecendo lá fora, como isso tem me afetado e o que eu posso fazer para bloquear isso. Coloquei o lixo fora, cuidei das minhas plantas, fiz almoço e passei pano na casa. Acendi um incenso, tomei banho, abri uma cerveja e fiquei sentada no chão, olhando para minha casa. Ela estava um caos quando acordei e agora estava assim: cheirosa, aconchegante, limpa. Deu uma sensação de paz então sorri, orgulhosa e naquele momento eu relembrei que sim, da para consertar as coisas, dentro ou fora de mim, desde que eu respeite o meu tempo (e tenha uma boa playlist), da para ter um lugar de paz no meio de todo esse caos que estamos vivendo e enquanto eu mantiver as coisas em ordem aqui onde vivo, será mais fácil lidar com o que vem de fora, dos outros.
A paz invadiu o meu coração/ De repente, me encheu de paz/ Como se o vento de um tufão/ Arrancasse meus pés do chão/Onde eu já não me enterro mais/ (...) Eu vim/ Vim parar na beira do cais/ Onde a estrada chegou ao fim/ Onde o fim da tarde é lilás/ Onde o mar arrebenta em mim/ O lamento de tantos "ais"
A paz - Gilberto Gil e João Donato